Sinistros levaram mais de 116 mil pessoas ao hospital em 2020, mais de 16 mil do que em 2019. Quedas lideraram ocorrências.
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Está a aumentar desde 2017 o número de acidentes em casa com recurso à Urgência dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Nesse ano, representaram 44,4% dos sinistros que obrigaram a assistência hospitalar. Em 2020, foram já 61,8%, correspondendo a cerca de 116 mil dos 188 164 acidentes domésticos e de lazer registados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). O confinamento ajuda a explicar este aumento dos sinistros dentro de casa, mas o crescimento tem sido constante.
As quedas são a principal causa dos acidentes dentro e fora de portas, afetando, sobretudo, rapazes até aos 9 anos e mulheres com mais de 75 anos (ver infografia abaixo). Os dados enviados ao JN fazem parte do sistema EVITA - Epidemiologia e Vigilância dos Traumatismos e Acidentes, coordenado pelo Departamento de Epidemiologia do INSA. O sistema é alimentado pelos episódios de Acidentes Domésticos e de Lazer (ADL) registados na Urgência dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. São analisados dados de sinistros que ocorrem em ambiente doméstico, lazer, escolar e desportivo.
Nos idosos, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, "as quedas são o acidente doméstico mais frequente" e "a principal causa de morte acidental", tendo originado 45 mil idas à Urgência em 2020. Em cada 100 internamentos motivados por quedas, seis resultam em morte no hospital. Há múltiplos fatores que, em simultâneo, aumentam o risco de queda nesta faixa etária.
Ao JN, Sofia Duque, médica internista com competências em geriatria, aponta alguns: problemas do equilíbrio e da marcha, doenças do ouvido, problemas de natureza cardiovascular, o espaço onde circula e a polimedicação.
"Um acidente num jovem, por exemplo em contexto de lazer ou numa escola, pode ter consequências traumáticas, mas a capacidade de ultrapassar o problema é muito maior do que num idoso, que já tem uma vulnerabilidade muito grande. Esse acidente pode determinar uma deterioração da sua capacidade funcional irreversível", alerta Sofia Duque. Para a médica, a abordagem ao idoso deve ter em conta "o doente como um todo". Para isso, torna-se necessário apostar em Geriatria no SNS.
"Visão global" do doente
"É importante que os idosos com várias doenças crónicas tenham um médico com uma visão global sobre toda a sua condição. Condição clínicas, mas depois social, psicológica e económica", afirmou a também coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. No que toca aos ADL, em 2020, foram registados 188 164 sinistros com necessidade de recurso à Urgência. A maioria (61,8%) ocorreu dentro de casa. Cerca de 13% foram na "escola, área institucional e recintos públicos" e 12,1% ao ar livre . Em 2019, entre os 192 977 ADL contabilizados, também a maioria (51,8%) tinha ocorrido em casa.
O tipo de lesão mais frequente é a "contusão ou hematoma", seguindo-se a "ferida aberta". Quanto às faixas etárias com mais ADL, a incidência tem vindo a diminuir nos jovens até aos 14 anos e a agravar-se nos maiores de 65 anos.
"O ano de 2020 terá sido condicionado pela pandemia covid-19, tendo-se observado no contexto das medidas períodos de confinamento, aumentando o tempo em que as pessoas permaneceram no domicílio", notou Tatiana Alves, responsável pelo EVITA, numa resposta escrita enviada ao JN.
A responsável recorda que as informações "baseiam-se nas notificações hospitalares, podendo as alterações nas deslocações e acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente aos serviços de Urgência durante esse ano, ter influenciado os números".
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O que é o EVITA?
O sistema EVITA - Epidemiologia e Vigilância dos Traumatismos e Acidentes, coordenado pelo Departamento de Epidemiologia do INSA, é alimentado pelos registos dos serviços de Urgência dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. O sistema "permite obter dados e informação adicional à informação clínica relevante para a monitorização e vigilância dos acidentes que ocorrem em ambiente doméstico, lazer, escolar e desportivo".
Quando é que há mais acidentes?
Segundo o INSA, em 2020, os horários de maior recurso à Urgência por acidentes domésticos e de lazer foram às 11, às 14 e às 18 horas. Em 2018 e 2019, tinham sido às 10 e às 16 horas. Já em 2017, foram às 18 e às 19 horas.
Quais as principais causas de acidentes?
Relativamente aos objetos envolvidos direta ou indiretamente na ocorrência dos sinistros, em 2020, destacam-se "Animal, planta ou pessoa", "Edifício, componente de edifício" (como, por exemplo, os degraus de escadas), "Veículo terrestre ou meio de transporte terrestre" (como, por exemplo, a bicicleta) e "Mobiliário".
Dados EVITA
188 164 dos acidentes domésticos e de lazer são provocados por quedas. Segundo o INSA, a distribuição percentual por sexo do total de sinistros tem "revelado proporções idênticas no sexo masculino e feminino".
70,1% acidentes domésticos e de lazer foram registados em 2020. O número é ligeiramente inferior ao registado em 2019 (192 977 sinistros) e superior ao registado em 2018 (106 179). A maioria ocorreu em casa.