Entre março de 2020 e julho de 2022, foram adiadas quase 236 mil cirurgias e os tempos de espera dos doentes aumentaram em média 45 dias. O impacto foi maior em Lisboa e Vale do Tejo e menos expressivo na região Centro.
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Em dois anos de pandemia, foram adiadas 235 989 cirurgias, das quais apenas 12% por motivo "contingência covid-19", revela um estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), divulgado esta quarta-feira, sobre a recuperação da atividade assistencial cancelada nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde durante a pandemia de covid-19. .
À data de respostas à ERS - julho de 2022 - do total de cirurgias adiadas quase 154 mil já tinham sido realizadas e mais de 82 mil ainda estavam por fazer, refere o estudo.
Entre as cirurgias adiadas naqueles dois anos, 77% estavam classificadas com a prioridade "normal", 18% eram "prioritárias", 3% "muito prioritárias" e 2% eram "urgências deferidas".
Na análise ao impacto dos adiamentos nos tempos de espera para atendimento, a reguladora distingue entre cirurgias já realizadas e por realizar. Concluindo que, nas cerca de 154 mil cirurgias adiadas e entretanto concretizadas, o tempo de espera do utente resvalou em média 45 dias face ao que estava previsto, atingindo os 159 dias em média.
"De todos os motivos de adiamento, as cirurgias adiadas por motivo "contingência /covid-19" apresentaram o maior desvio medido em dias (em média, 88 dias)", pode ler-se no relatório.
Mais 93 dias de espera para cirurgia de gastrenterologia
Olhando às diferenças entre especialidades médicas, a oftalmologia foi a que registou mais adiamentos, seguindo-se cirurgia geral e ortopedia. "No entanto, a especialidade de gastroenterologia foi a que registou a maior variação no tempo de espera para atendimento, tendo-se apurado um desvio médio de 93 dias", refere a reguladora.
Segundo o estudo, o impacto dos adiamentos foi mais significativo na região de Lisboa e Vale do Tejo, na qual as cirurgias demoraram em média mais 52 dias do que o previsto, num total de 180 dias de espera média.
O Algarve, que já tinha os maiores tempos de espera do país, sofreu um desvio médio de 49 dias e os utentes passaram a aguardar em média 201 dias pela cirurgia. O impacto foi menos expressivo na região Centro (mais 24 dias sobre o tempo médio previsto), num total de 140.
Ainda piores são os resultados quando se olha ao impacto na espera das cirurgias que ainda não foram realizadas. Nas 82 403 intervenções que estavam por concretizar à data de envio dos dados à ERS, os desvios médios são, nalguns casos, de quase dois anos.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo, novamente a mais afetada, uma cirurgia com tempo médio de espera previsto de 217 dias, resvalou em média 651 dias, para um total de 868.
