Após dois meses de lay-off total, fábrica de vestuário de Penafiel só faz 15 dias de férias em setembro. Funcionários concordaram.
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Com encomendas suspensas e sem matérias-primas (muitas vindas de Itália), a Under Blue Indústria, em Penafiel, esteve quase dois meses em lay-off total. Empresário e funcionários temeram pelos postos de trabalho. Mas, aos poucos, e ainda que em menores quantidades, os clientes foram retomando as encomendas. Este ano, os típicos 15 dias de férias de agosto passaram para meados de setembro, para conseguirem dar resposta à produção de blazers e sobretudos.
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As perspetivas eram de um bom ano de negócio. "Em fevereiro, já tínhamos encomendas até outubro", explica Filipe Magalhães, CEO da Under Blue. Mas, com a pandemia, vieram os cancelamentos e a suspensão de encomendas além da falta de matérias-primas.
Apesar de 50% da produção ser para a sua marca própria, vendida em lojas da insígnia em Portugal e Espanha, os restantes 50% são para clientes internacionais. "Pediram para pararmos tudo o que estávamos a fazer, porque não sabiam o que ia acontecer. Foi um drama", lamenta o empresário.
A fábrica encerrou no final de março para lay-off total na incerteza de quando regressariam à laboração. Isso só aconteceu no final de maio, de forma parcial, e a indústria só retomaria a produção a 100% no fim de junho.
todos estão apreensivos
Os clientes retomaram as encomendas, mas com quebras nas quantidades a rondar os 30%. Para dar resposta aos pedidos e não perder os trabalhos, Filipe Magalhães viu-se obrigado a pedir aos 51 funcionários que abdicassem das férias de agosto. "Sabemos que é difícil, mas agora é a luta pela sobrevivência. Foram todos sensíveis e 95% dos trabalhadores aceitaram", revela, salientando que esta crise "só se ultrapassa com cooperação entre todos".
O CEO da Under Blue antecipa uma quebra de faturação de 30% a 40% em relação ao ano passado e não esconde que passou dias difíceis. "Temi pela empresa. Agora estou mais confiante, mas continuo apreensivo, até porque as encomendas para a primavera-verão também terão quantidades mais reduzidas", adianta.
Funcionária há três anos, Otília Silva dá "graças a Deus" por terem agora muito trabalho. "Víamos empresas a fechar e não sabíamos como ia ser com a nossa", refere. Viu-se obrigada a desmarcar as férias "sem prejuízos" e garante compreender a situação. "Em setembro, já não vou de férias, fico por casa e descanso. Para o ano, vê-se", diz.
Também Telma Moreira está de acordo com a opção. "Ainda estamos preocupados, porque não se sabe quando isto vai passar e temos de fazer um esforço e ajudar-nos uns aos outros", acredita a operária. "Já ia ficar por casa, devido à pandemia, e até prefiro este ano ter menos férias para manter o posto de trabalho", atesta.