Setores como metalurgia, calçado e têxtil recuperam tempo perdido e aproveitam encomendas de curto prazo para diminuir prejuízos.
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A maioria das fábricas dos setores tradicionais como a metalurgia, calçado e têxtil não fecha para férias em agosto, como era habitual. A previsão é das associações mais representativas dos setores, agora que se cumprem quase três semanas de um mês que está a servir para produzir as encomendas adiadas e, assim, diminuir o prejuízo contabilizado nos meses de confinamento.
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Os três setores representaram um volume de exportações de 27 mil milhões de euros em 2019. Neste bolo, a fatia maior é a da metalurgia, que atingiu quase 20 mil milhões de euros. Mas este ano vai ficar aquém pois a indústria exportadora entrou em profunda crise, com as encomendas internacionais adiadas ou canceladas.
As encomendas adiadas no confinamento estão a ser produzidas agora, pelo que "acabou por ser mais conveniente, para muitas empresas, não encerrarem em agosto e as férias serem gozadas noutra altura", constata Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP).
Embora a metalurgia seja um setor heterogéneo que varia consoante o subsetor, de um modo geral agosto "está a servir para conseguir alguma recuperação", acrescenta Rafael Pereira, que diz que houve algumas empresas que chegaram a acordo com os trabalhadores para gozarem férias nos meses de abril e maio, quando a pandemia atingiu o ponto máximo em Portugal: "Isso levou a que muitas empresas em agosto não tivessem encerrado para férias".
Dos três setores, onde a laboração de agosto se sente mais é no calçado. Segundo Paulo Gonçalves, porta-voz da Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APPICAPS), "a esmagadora maioria das empresas está a trabalhar em agosto para recuperar algum do tempo perdido".
O calçado é um setor cuja sazonalidade "já se vinha a acentuar" e a tradição de fechar em agosto já não estava tão enraizada nos últimos anos, explica. Ainda assim, este ano a laboração em agosto "é ainda mais reforçada", sobretudo nas três primeiras semanas, em que trabalharam "cerca de 80%" das empresas associadas à APPICAPS.
coleção está atrasada
No têxtil e vestuário, o comportamento divide-se. Se nas têxteis, como fiações, a paragem é obrigatória para muitas fábricas por causa da manutenção das máquinas, o vestuário optou por ficar aberto. A coleção de outono/inverno já devia ter sido entregue, mas está ainda a ser acabada. "As fábricas normalmente funcionam a três turnos e estão a deixar um turno. Nas confeções há sempre a situação de ter de se cumprir o período de 15 dias consecutivos de férias e estão-se a procurar situações em que não vão todos ao mesmo tempo", ilustra Mário Jorge Machado, da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). César Araújo, da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC/APIV), corrobora. "Há muitas empresas que só vão de férias na primeira semana de setembro". A decisão de fechar dependerá das encomendas que neste momento escasseiam. Qualquer oportunidade de trabalho que surja pode atirar as férias para as calendas.