Há sete anos que Tânia Soares e Afonso de Sousa, um casal de Bragança, aguardam que lhes seja entregue uma criança para adoção.
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Ela é animadora sociocultural numa IPSS e ele jornalista de uma rádio nacional. Não têm filhos, mas sonham ter um ou dois. "Temos aqui um crocodilo de pelúcia bem bonito à espera. Temos condições económicas, trabalho, casa e, sobretudo, muito amor", conta Tânia, 42 anos. A espera é longa e dolorosa. O tempo vai passando e não veem a luz que tanto almejam, o dia em que lhes digam que há uma criança para eles cuidarem.
O casal já deu todos, e foram tantos, os passos neste longo processo, que teve início em 2016. "Começou pela pré-inscrição, candidatura e entrega de documentação. Depois a fase de avaliação psicossocial, tivemos a visita domiciliária, fizemos as três formações obrigatórias e agora estamos a aguardar", explica Tânia.
A última sessão de parentalidade adotiva em que participaram foi entre novembro e dezembro de 2021. "Pensávamos que esta parte, onde participaram só três casais e uma senhora, já seria a última etapa", contou Afonso de Sousa, 51 anos. As questões jurídicas são morosas e, muitas vezes, os interessados em adotar acabam por esmorecer enquanto aguardam. "Está tudo centralizado em Lisboa. Já fizemos os passos todos. Fizemos vários testes para ver se temos condições psicológicas. Já sabem tudo de nós", desabafa Tânia.
Depois de todos os requisitos preenchidos, é feita uma triagem entre os critérios dos interessados e as crianças disponíveis. Porque os pais é que são entregues às crianças e não o contrário. "Acredito que haja muita gente a aguardar pelo mesmo, mas esta demora não é boa", admite o jornalista.
Fundaram associação
O casal está disponível para adotar uma ou duas crianças até aos seis anos. Ambos gostavam muito de ser pais e até têm muita experiência com menores.
Fundaram uma associação de artes marciais para que crianças e jovens sem possibilidades económicas aprendam a modalidade. Tânia foi, durante muitos anos, animadora social de menores na Santa Casa da Misericórdia de Bragança, quando a instituição tinha uma escola do 1.º Ciclo.
O tempo passa e o desânimo instala-se. "Nestes sete anos mudaram algumas coisas. Na altura, a Tânia tinha um sobrinho, agora tem quatro. Eu mudei de emprego", referiu Afonso. Num processo tão longo e sem data à vista para acabar, há sempre alguma desesperança que paira.
"Nós vamos mudando, a vontade vai mudando e depois vemos crianças que ninguém quer, que são abandonadas, retiradas às famílias que não têm qualquer tipo de condições para os ter. Ficam em instituições anos e anos. Quando o tribunal decide pela medida de adotabilidade, ou já não têm idade, ou já ninguém os quer", observa Tânia.