Carlos Matias, da moção E - adversária da moção A, de Mariana Mortágua -, frisou que a direção tem de fazer um balanço das "sucessivas derrotas eleitorais" do BE, de modo a corrigir o rumo e voltar a merecer a "confiança" do país. Na intervenção final da moção, Matias também exortou o partido a libertar-se do "geringoncismo". As diferenças face à guerra da Ucrânia voltaram a não ser esquecidas, tendo a moção E acusado mesmo a direção de estar alinhada com os EUA e a NATO.
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O tema da guerra da Ucrânia foi o mais quente da convenção. Embora tenha assegurado sempre que condena a invasão russa, a moção E questionou a pertinência de a deputada Isabel Pires ter integrado uma delegação parlamentar portuguesa que visitou o Parlamento ucraniano. Do outro lado, várias foram as vozes afetas à moção A que acusaram os críticos de serem brandos com a Rússia.
Carlos Matias esclareceu que a moção E condena a "criminosa invasão" da Ucrânia. "Queremos Putin fora da Ucrânia e a NATO fora da Europa", resumiu. Sobre as críticas do ex-deputado Luís Fazenda - que, na véspera, tinha acusado a moção E de defender a entrega de território ucraniano à Rússia -, garantiu que elas veiculam informações "falsas".
Respondendo às várias vozes da moção A que, a propósito da análise à situação da Ucrânia, condenaram todos os imperialismos, incluindo o dos EUA e o russo - casos de Fazenda ou do também ex-deputado Jorge Costa -, Carlos Matias frisou que as "referências genéricas aos 'imperialismos' apenas obliteram o papel hegemónico dos EUA e da NATO".
"Qual o objetivo de colocar em pé de igualdade todas as potências emergentes, esses tais "imperialismos" de forma indistinta - todos maus, é certo - com a mais poderosa máquina de guerra deste planeta, a dos EUA e da NATO?", quis saber o membro da moção E. "Só conseguimos vislumbrar um objetivo: justificar o injustificável, o inadmissível alinhamento com a posição do Governo português sobre a guerra na Ucrânia, que é a mesma dos EUA e da NATO".
A moção E critica a ida da deputada Isabel Pires ao Parlamento da Ucrânia por considerar que o presidente dessa instituição, Ruslan Stefanchuk, esteve envolvido no massacre da Casa dos Sindicatos de Odessa, em 2014, que vitimou mais de 40 oposicionistas. "Não nos verão calados e em salamaleques perante assassinos de militantes de Esquerda", atirou Carlos Matias, dizendo-se também contra a "escalada armamentista" e o "envolvimento de Portugal na guerra".
"Não fugimos ao balanço das derrotas sucessivas"
Sobre política interna, o crítico da direção do BE considerou que a geringonça foi "uma boa solução, ajustada a um tempo preciso".No entanto, "hoje, temos de desentranhar deste partido o 'geringoncismo' e retomar o 'correr por fora' e 'correr por dentro', inscritos na nossa original marca identitária", frisou.
Os críticos de Mortágua têm argumentado que a direção recusou fazer uma análise e uma autocrítica das opções que levaram aos recentes desaires nas urnas. Carlos Matias insistiu nesse tópico: "Na moção E não fugimos ao balanço das nossas sucessivas derrotas eleitorais", atirou.
Em concreto, o bloquista considerou "erradas" as campanhas eleitorais" centradas na proposta de renovação de acordos com o PS". Essa opção, argumentou, resultou no "esbatimento" da intervenção do BE nas lutas laborais e sociais.
Nesse sentido, a moção E propõe uma solução "que reponha a radicalidade no discurso, nas propostas e na intervenção social", em vez de um "eleitoralismo marcado pela superficialidade e pelos 'sound bites'". Garantindo não menosprezar a atividade parlamentar, Carlos Matias criticou, ainda assim, o facto de o BE ter passado a colocar o Parlamento "no centro" da vida partidária. "Essa opção retirou força e coerência à nossa intervenção", sublinhou, vincando que o partido deixou de "correr por fora" e se institucionalizou.
Os resultados para a Mesa Nacional (direção) do BE começam a ser divulgados a partir das 13 horas. Mariana Mortágua será a nova coordenadora, sucedendo a Catarina Martins, faltando apenas saber por que percentagem derrota o seu adversário Pedro Soares - que admitiu que não se candidatou para vencer, mas sim para forçar o debate.