Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, fez a intervenção de encerramento da moção A, encabeçada por Mariana Mortágua. Começou o discurso dirigindo-se aos delegados como "camaradas, 'camarados', 'camarades'", dizendo que a "liberdade de expressão" é uma das bandeiras do BE e acusando alguns membros da moção E de não respeitarem as escolhas de cada um. Também criticou os adversários devido à posição sobre a guerra da Ucrânia.
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"Há quem diga que não se pode fazer assim a conjugação das palavras", afirmou Pedro Filipe Soares após o cumprimento inicial. E, perguntando "quem é que tem medo das palavras", justificou a forma insólita como começou o discurso: "Ouvimos tantas vezes falar na liberdade de expressão. Mas qual dessa liberdade é que nós queremos negar? Nenhuma. É a nós que nos querem negar essa liberdade".
O líder parlamentar bloquista insistiu no tema, frisando que "aqueles que dizem que não podemos usar as palavras como queremos são aqueles que usam as palavras que nos oprimem". Aplaudido, completou: "E, quando dizemos que queremos usar as palavras para nos dar liberdade, dizem-nos que não pode ser".
Mas esta, "ao contrário do que eu achava, não é uma luta que temos de ter apenas lá fora", prosseguiu Pedro Filipe Soares. Isto porque, segundo garantiu, "alguns dos membros" da moção E têm defendido "que a questão da orientação sexual ou da identidade de género" é um "determinismo biológico" ou uma "opção pura e simples", visão que o deputado contesta.
"Não é só a Ucrânia que divide as moções", prosseguiu Pedro Filipe Soares numa alusão ao tema da guerra, o mais quente da convenção. "Há questões de cultura e esta é uma delas", vincou, regressando ao assunto do debate linguístico. E, embora reconhecendo que há quem considere que essa discussão comporta "uma certa extravagância", alegou que está em causa uma luta por "direitos" que o BE já "impôs ao país". Foi muito aplaudido pela sala.
"Saibamos todos, todas e 'todes' que, se essa luta também se faz cá dentro, nós vamos continuar a luta para melhorar a lei e, da lei, melhorar a sociedade. É essa a nossa tarefa e dela não vamos abdicar", garantiu.
Defendeu viagem de deputada bloquista à Ucrânia
Sobre a Ucrânia, Pedro Filipe Soares defendeu a decisão de o grupo parlamentar ter autorizado a viagem da deputada Isabel Pires ao referido país do Leste. O facto de a deputada ter integrado a delegação portuguesa, chefiada pelo presidente da Assembleia da República, Santos Silva, mereceu críticas da moção E.
Lembrando que a decisão de viajar não coube a Isabel Pires mas sim ao coletivo, Pedro Filipe revelou que a deputada defendeu, junto de responsáveis do Parlamento ucraniano, que "era preciso calar as bombas e defender uma conferência pela paz". E não tem dúvidas: "Ela representou-nos a todos, a todos! À Esquerda que se leva a sério neste país". A maioria da sala aplaudiu.
Outro dos temas espinhosos foi o facto de a moção A propor "uma vida boa para todos", slogan que a moção E considerou ser vago e não vincular o partido ao socialismo. Afirmando que alguns chamaram "utopia" a essa máxima, questionou: "O que é o socialismo senão a utopia que nos faz sair à rua todos os dias?".
Pedro Filipe Soares também acusou o PS de "dar palco" à extrema-direita - uma crítica repetida por muitos dos congressistas, independentemente da moção que apoiavam. Revelando que muita gente lhe tem perguntado se tem "medo" que Mariana Mortágua possa não se revelar à altura do papel de líder do partido, vincou que são "os poderosos" que devem sentir medo.
O líder parlamentar reservou uma palavra para o ministro das Infraestruturas, João Galamba. Com ironia, referiu aquele que, por estes dias, disse dever ser o estado de espírito do governante: "Espelho meu, espelho meu, há algum ministro mais incompetente do que eu? E o espelho cala-se com vergonha".
Pedro Filipe Soares alegou que António Costa só não demite Galamba porque o atual "carnaval" lhe permite "desviar as atenções". Acusou ainda o Executivo de usar o mesmo argumento que Luís Montenegro utilizou quando era líder parlamentar do PSD no tempo da 'troika': este dizia então que "o país está melhor, as pessoas é que não", lembrou Soares; já o PS adapta agora a mesma máxima, modificando-a apenas para dizer que "as pessoas ainda não" estão melhores.
Recorrendo a uma canção de Chico Buarque, Pedro Filipe Soares prometeu um BE combativo nas ruas. Agradeceu ainda a Catarina Martins, a líder substituída na convenção, por ser uma "mulher de força" que tornou todos no partido "melhores". Referiu que a ex-coordenadora continuará presente na vida do BE porque não só "não se sai de onde se é" como Catarina "faz falta à Esquerda".
Os resultados para a Mesa Nacional (direção) do BE começam a ser divulgados a partir das 13 horas. Mariana Mortágua será a nova coordenadora, sucedendo a Catarina Martins, faltando apenas saber por que percentagem derrota o seu adversário Pedro Soares - que admitiu que não se candidatou para vencer, mas sim para forçar o debate.