O protesto dos agricultores na Bélgica cortou todas as estradas de acesso ao Parlamento Europeu, esta quinta-feira. As tochas, as fogueiras, a terra e a palha substituíram os fatos e as gravatas que habitualmente circulam na Praça do Luxemburgo, em Bruxelas. Os agricultores prometem não sair até serem correspondidos.
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Começaram a chegar poucos minutos antes da meia-noite (23 horas em Lisboa). Primeiro chegou um trator, depois outro e, cerca da uma hora da madrugada, já eram dezenas a ocupar as principais ruas de Bruxelas, com particular densidade na Praça do Luxemburgo, onde está sediado o Parlamento Europeu. Neste local, os agricultores ficaram toda a noite em protesto e continuam de manhã, como o JN constatou em Bruxelas. Vêm de todo o país e querem respostas dos líderes europeus para a crise que vivem.
“Estamos aqui por décadas de esquecimento destes burocratas que agora vão ter de nos ouvir”, dizia o porta-voz do movimento de protesto, ao megafone, colhendo o gáudio dos agricultores revoltados, ainda nas primeiras horas. "Não podemos ser nós a pagar a crise do clima. A agricultura não provocou esta crise", acrescentava, tecendo críticas às limitações impostas por Bruxelas ao setor agrícola, com a justificação do combate às alterações climáticas.
A Praça do Luxemburgo transformou-se num quintal onde não faltam pneus e palha a arder, fogo de artifício e muitas fogueiras. De noite, foi difícil dormir nas imediações da Praça do Luxemburgo, face ao barulho incessante das buzinas dos tratores que se ouvia a cerca de um quilómetro.
A Polícia belga está a acompanhar de perto a manifestação que junta dezenas de tratores e centenas de agricultores, principalmente na Praça do Luxemburgo, mas também noutras ruas da capital belga. Até ao início da manhã, não havia relato de qualquer distúrbio e os protestos seguiam pacíficos.
As autoestradas de acesso a Bruxelas também estão interditadas, bem como algumas estradas nacionais. Esta quinta-feira de manhã, alguns agricultores estacionaram os tratores nas ruas adjacentes ao Parlamento Europeu e seguiram a pé para a porta do Parlamento, onde se juntaram aos que já lá estavam desde o início da noite.
Entre os agricultores em protesto estão ainda muitos jovens como Lucas Mertens, de 28 anos, de Bruges, que fez mais de 100 quilómetros de trator, até ao Parlamento Europeu, para dar conta da revolta que sente. “A agricultura não é atrativa para os jovens. O trabalho já é difícil, faltam apoios e impõem-nos regras que só agravam ainda mais os problemas que já enfrentamos”, disse o jovem, ao JN.
Victor Jacobs, de 59 anos, confirma que a atividade “é muito difícil, pouco atrativa para os jovens e não tem apoios europeus”. Apesar de reconhecerem as valias do mecanismo da Política Agrícola Comum, os agricultores como Victor queixam-se de “atrasos de vários meses no pagamento das verbas” e pedem mudanças aos regulamentos. Querem, sobretudo, mecanismos rápidos e eficazes de apoio.
Os agricultores reivindicam mudanças na política da Comissão Europeia para a Agricultura, com mudanças no sistema de pagamentos para o tornar mais ágil, e o fim da burocracia que, devido às leis de Bruxelas, é cada vez mais inerente à profissão.