Apesar da quebra de 9% no consumo, situação é crítica. Autoridades admitem cota a partir da qual água nas barragens é reservada ao abastecimento público.
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O Algarve tem, neste momento, água apenas até dezembro. E a situação só não é pior porque, devido à pandemia, o consumo baixou 9%. Mas também porque o recurso à barragem do Funcho para abastecer as populações permitiu aumentar o volume em Odelouca.
A situação é ainda mais crítica no Sotavento. Em cima da mesa, sabe o JN, está uma medida que prevê que, a partir do momento que as albufeiras de Odeleite e Beliche atinjam determinada cota, a água aí captada só possa ser usada para abastecimento público.
O alerta pode ler-se no relatório de junho do grupo de trabalho que presta assessoria técnica à Comissão Permanente da Seca. Analisados os volumes armazenados e tendo em conta os consumos e perdas dos sistemas previstos, os peritos avisam que, "no final de junho, a situação em termos de disponibilidades de água superficial [...] permitem apenas assegurar os consumos estimados durante o ano civil de 2020".
Ao JN, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) garantiu "que todos os consumos estão assegurados até ao final do ano". Pimenta Machado frisa ainda que a "redução de 9% no consumo em julho face a igual mês do ano passado veio dar maior resiliência ao sistema de águas do Algarve".
Cota mínima de captação
A situação mais crítica continua a registar-se no Sotavento algarvio, com as albufeiras de fins múltiplos de Odeleite e Beliche a 32,1% e 39,1% da sua capacidade, respetivamente. Em caso de prolongamento da seca, os peritos sugerem, entre as medidas extraordinárias a adotar, a "definição de cota mínima de captação para todos os usos que não tenham por finalidade o abastecimento público".
Uma medida que está ainda a ser negociada e que, na prática, significa que, a partir do momento em que se atinja a cota definida para as albufeiras de Odeleite e Beliche, a água que ali existe é exclusiva para consumo humano.
Recorde-se que o Aproveitamento Hidráulico Odeleite-Beliche se destina ao abastecimento de água ao Sotavento e à rega de cerca de oito mil hectares de solos agrícolas.
Reserva estratégica
Já no Barlavento, a decisão de utilizar a barragem do Funcho, situada em Silves, como reserva estratégica para abastecimento público, conservando Odelouca, revelou-se "fundamental", frisa Pimenta Machado. No final de julho, a albufeira de Odelouca estava a 55%, depois de chegar aos 35% em novembro do ano passado.
De um total de 15 hectómetros cúbicos (hm3), foi captado no primeiro semestre deste ano, quantifica o responsável da APA, "11,75 hm3" para abastecimento público. A captação do remanescente (3,25 hm3) naquela albufeira será retomado em outubro.
A bacia hidrográfica do Guadiana na parte espanhola estava, a 4 deste mês, a 35,05% da sua capacidade, sendo a bacia espanhola com os valores mais baixos. Em Portugal, no final de julho, estava 61,3%.
O ano mais quente
Portugal está a viver o ano mais quente de sempre desde que há registos. Há 90 anos que não se registava um período de janeiro a julho tão quente como o presente, de acordo com os dados do IPMA.