Os alunos do Secundário vão estudar os processos eleitorais, como as presidenciais de 1986, nas disciplinas de Matemática. Teoria das eleições, literacia financeira, estatística e pensamento computacional são áreas que vão ser reforçados nos programas em detrimento de temas mais teóricos. Os programas vão mudar a partir de 2024.
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A Matemática faz parte do dia-a-dia e os alunos têm de compreender a sua aplicabilidade e utilidade, frisou esta terça-feira o coordenador do grupo de trabalho criado pelo Governo, Jaime Carvalho e Silva, num encontro com jornalistas no Ministério da Educação.
As mudanças começam a ser aplicadas no ano letivo 2024-2025, no 10.º ano, a generalização a todo o secundário será em 2026-2027.
"As presidenciais de 1986 é a nossa história, existir uma primeira e uma segunda volta muda tudo. Agora há segundas voltas nas eleições para as Ordens dos médicos ou advogados por causa da Matemática", ironiza o professor da Universidade de Coimbra.
Saber identificar uma maioria absoluta ou relativa, aplicar métodos como o de Hondt, analisar contextos eleitorais como os das autárquicas ou estudar o processo da distribuição de mandatos constam das Aprendizagens Essenciais do 10.º ano, que entraram ontem em consulta pública. No caso da literacia financeira, os alunos vão aprender a diferença entre salário bruto e líquido, o valor de alguns impostos como o IVA ou IRS ou a analisar criticamente campanhas de promoções e vendas.
1.º período comum
"Teoria Matemática das Eleições", literacia financeira, estatística (por exemplo, distinguir entre população e amostra ou organizar dados quantitativos em tabelas de frequências absolutas) são temas que vão ser comuns aos programas das quatro disciplinas de Matemática dos cursos científico-humanísticos e profissional. Um terço do programa do 10.º ano - o que será lecionado no 1.º período, explicou Jaime Carvalho e Silva - será "muito semelhante" para que possa facilitar mudanças de cursos.
O mais importante é que não fujam da Matemática, defendeu, manifestando a esperança de que no futuro não hajam alunos a concluir o Secundário sem Matemática no currículo (caso dos alunos de Letras e Humanidades que têm a disciplina de Matemática Aplicada às Ciências Sociais apenas como opção e não obrigatória).
Confrontado se estas mudanças vão contribuir para a melhoria dos resultados à disciplina, o docente não tem dúvidas: "Sim", "não por razões de convicção ou fé religiosa", frisa. Os estudos comprovam-no: "os alunos mais motivados têm melhores resultados". O objetivo é chegar à franja "demasiado grande" dos que desistem.
No próximo ano letivo, começam a ser aplicadas as mudanças no Básico (1.º , 5.º e 7.º anos), aprovadas há um ano. As alterações, sublinhou hoje o ministro da Educação, resultam de um trabalho de seis anos.
"A Matemática é a disciplina que mais recursos consome, tem mais horas semanais, mais horas de apoios, no Básico e Secundário, e persiste em ser a disciplina com mais insucesso", afirmou o ministro.
"Não temos pressa", insistiu João Costa, defendendo que a intenção é que os programas tenham "equilíbrio" entre os conhecimentos úteis, abstratos, práticos ou teóricos. "Queremos chegar a todos os alunos", frisou João Costa. Os receios do grupo de trabalho quanto à capacidade de rede informática das escolas serão superados pelo investimento previsto no PRR, garantiu.
A revisão agora proposta, assegurou Jaime Carvalho e Silva não elimina temas aos programas mas reduz alguns, especialmente os mais teóricos. Por exemplo, apontou, "números complexos" agora dados no 12.º que vão passar a ser lecionados no 10.º.
"Uma das grandes preocupações do grupo foi garantir a exequibilidade dos programas", afirmou.
O que sai do programa?
Não foram eliminados temas mas alguns, mais teóricos, foram reduzidos. Por exemplo, apontou Jaime Carvalho e Silva, "Números complexos". "Uma das grandes preocupações foi a exequibilidade dos programas", frisou.
O recurso à folha de cálculo, a ambientes de geometria dinâmica, a aplicativos digitais diversos, smartphones, calculadoras gráficas deve ser feito de forma sistemática, lê-se nas propostas.
A avaliação formativa deve ser privilegiada. Assim além dos testes, são propostas resoluções detalhadas de tarefas, em relatórios ou cartazes, a criação de vídeos ou de blogs para acompanhar o desenvolvimento das aprendizagens.
Docentes em formação
O grupo de trabalho deve analisar as propostas enviadas durante a consulta pública até 15 de novembro. A versão final deve ser entregue no final do ano para ser homologada. As mudanças começam a entrar em vigor no ano letivo 2024/2025 no 10.º ano. Antes serão testadas em "turmas piloto".
Os professores do Básico começam em setembro a formação para aplicar as novas orientações. Os do Secundário só depois das mudanças serem homologadas. Jaime Carvalho e Silva alertou para a "falta de docentes" prevista em Matemática.
