Cuidadoras de crianças pedem fim dos recibos verdes e a concretização do acordo que prevê um salário de 1.178 euros contra os 762 atuais
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Dezenas de amas estão a exigir atualização dos contratos de trabalho prometidos no âmbito do acordo entre o Governo e a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) em dezembro. As profissionais, que reuniram ontem com o Bloco de Esquerda, receiam que o acordo que prevê o aumento dos 762 para os 1.178 euros mensais e a conversão dos recibos verdes em contratos de trabalho por conta de outrem não veja a luz do dia pois há lacunas a colmatar, como referiu Henrique Queirós, da CNIS.
"O Governo atribui uma comparticipação às instituições, por cada ama que acolha quatro crianças, no valor de 1.682 euros, mas as contas foram mal feitas e têm que ser corrigidas", disse Henrique Queirós, no encontro entre Catarina Martins e as amas. "Se os contratos de prestação de serviços das amas forem convertidos em regime de contrato de trabalho, como o Governo propõe, o custo do duodécimo com remunerações e respetivos encargos seria de 1717,75", acrescentou. Perante tal, as amas reclamaram durante o encontro. "Então assinaram antes de fazer as contas porquê?".
Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, valorizou a luta das amas e anunciou que vai chamar a ministra do Trabalho ao Parlamento.
"Roubo na pensão"
"Se o Estado paga pouco, tem de gastar mais dinheiro com os cuidados em Portugal para dar dignidade a quem é cuidado e a quem cuida", disse Catarina Martins, para quem que o adiar do acordo é roubar as pensões: "Não podemos permitir este adiamento que condena a ama a um salário e a uma pensão miseráveis, uma vez que cada mês que descontam sobre o valor sem a atualização é um roubo nas pensões no futuro".
Emília Santos, 62 anos, é ama em Águeda, Aveiro e diz que apesar de receber uma miséria, 762 euros, não desiste da profissão. "Faço-o porque amo o meu trabalho e já cuido de várias gerações das mesmas famílias".
Mariana Trindade, 48 anos, e Ligia Mariz, 57, são amas em Almada. "Trabalhamos onze horas por dia, das sete às 18 horas e temos que ter refeições preparadas para as crianças porque por vezes há pais que não entregam comida em condições e não podemos deixar uma criança com fome", diz Mariana Trindade. Lígia Mariz já teve uma criança até perto das 23 horas pois os pais não conseguir ir buscá-la mais cedo.
Luísa Sousa, dirigente da Associação dos Profissionais do Regime de Amas (APRA), critica o Governo por investir nas creches gratuitas e acabar por desprezar o trabalho realizado pelas amas. "As amas fazem parte da solução, temos que dar o direito aos pais em escolher entre um infantário e uma ama".