Banco de Sangue Animal, criado em 2011 em Portugal, tem mais de dez mil cães e gatos dadores. Projeto já se internacionalizou.
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Acomodados dentro das transportadoras, Sebastião e Kimi aguardam na sala de descanso pela sua vez para dar sangue. Ele é um gato de dez anos, ela uma gata com cinco. Ambos são dadores e doam sangue três vezes por ano para ajudar animais que necessitam de uma transfusão para sobreviver. Mas não são os únicos.
O Banco de Sangue Animal (BSA), uma unidade privada criada em 2011, conta com mais de dez mil cães e gatos dadores em Portugal. No país, existem três laboratórios: dois no Porto e outro em Lisboa. E o projeto já se internacionalizou, com a abertura de uma filial na cidade espanhola de Barcelona e outra na Bélgica. As colheitas permitem ajudar a salvar cerca de 1500 vidas por mês. Dentro e fora do país.
O Banco de Sangue Animal, um dos primeiros a serem criados em Portugal, nasceu pelas mãos do médico veterinário Rui Ferreira. "Surgiu da necessidade de fazer as transfusões de uma forma mais organizada", recordou o diretor clínico do BSA, detalhando que, antes, sempre que um animal necessitava de uma transfusão, era necessário contactar um dador e fazer uma colheita de emergência. Por vezes, não dava tempo para analisar a compatibilidade ou despistar possíveis doenças infecciosas.
"O Banco de Sangue Animal surgiu da necessidade de fazer as transfusões de uma forma mais organizada"
O BSA veio melhorar o processo. Em Portugal, as colheitas são feitas em dois laboratórios. Um no Porto, outro em Lisboa. Seguem, depois, para um outro laboratório na Areosa, no Porto, onde é feita a separação do sangue em três componentes: glóbulos vermelhos, plasma e plaquetas. Em simultâneo, à semelhança do que é feito na medicina humana, é realizada uma análise para despistar doenças infecciosas. Segundo Rui Ferreira, esta prática do banco português é "única no Mundo". Por norma, explicou ao JN, em medicina veterinária, o despiste é feito apenas uma vez por ano.
mais de 40 centros
Após o resultado negativo para doenças infecciosas e da separação dos componentes do sangue, as unidades são armazenadas nos laboratórios do Porto e Lisboa ou num dos mais de 40 centros do banco de sangue espalhados pelo país. Quando solicitadas pelas clínicas ou hospitais veterinários seguem por transportadora. Na encomenda, vai também uma folha para o caso de o dono do animal doente querer enviar uma mensagem de agradecimento ao dono do dador. Mariana Ferreira já perdeu a conta aos animais que os seus gatos, Sebastião e Kimi, ajudaram a salvar.
"É uma mais-valia [a dádiva] em todos os sentidos. É uma maravilha perceber que, tal como nós, eles podem salvar vidas"
"É uma maravilha perceber que, tal como nós, eles podem salvar vidas. É um sentimento fantástico. Não há palavras", contou Mariana Ferreira, dona do Sebastião e Kimi e presidente da associação Abrigo Gatos e Afetos, apelando à dádiva e sublinhando a sua importância.
A colheita dura cerca de 15 minutos e o procedimento, segundo Rui Ferreira, não é doloroso. Para poderem dar sangue, os cães têm de pesar mais de 20 quilos e os gatos mais de três quilos, sendo que cada um só doa a animais da sua espécie. Aos dadores são oferecidos rastreios anuais a diversas doenças, colocação de microchip, exames físicos e vacinas.
De acordo com Rui Ferreira, as colheitas têm dado para responder às solicitações. Em Portugal, rondam as cerca de 330 dádivas por semana. O veterinário frisa que Portugal é um dos países mais avançados na transfusão de sangue animal.
Dados
40 profissionais compõem a equipa do Banco de Sangue Animal em Portugal, em Barcelona e na Bélgica. Em Portugal, o banco conta com três laboratórios.
Perguntas e Respostas
Quando foi criado o Banco de Sangue Animal?
O Banco de Sangue Animal (BSA) foi criado em 2011 pelo médico veterinário Rui Ferreira. Primeiro, no Porto. Depois, em Lisboa. Trata-se de uma unidade privada, que conta já com mais de dez mil dadores e cerca de 330 dádivas por semana. Fora do país, o BSA conta com uma filial em Barcelona e outra na Bélgica. Em Portugal, conta com três espaços: um na Rua de João de Deus, no Porto; outro na Rua Dr. Eduardo Santos Silva, também no Porto; e o último na Rua Manuel da Fonseca, em Lisboa.
Quais os critérios para um animal ser dador?
Quem quiser inscrever o seu cão ou gato como dador pode fazê-lo através do site ou nas instalações do Banco de Sangue Animal. Mas há critérios a cumprir: os animais têm de ter entre um e dez anos, ser saudáveis e calmos, não podem tomar qualquer tipo de medicação além dos desparasitantes e não ter um histórico de doença grave. No caso dos cães, têm de ter um peso superior a 20 quilos. Já os gatos têm de ter mais de três quilos.
Há regalias para os cães e gatos inscritos como dadores?
Sim, todos os dadores têm regalias. Aos cães e gatos é garantida a vacinação anual standard, a desparasitação interna e externa, a aplicação e registo de microchip, o exame físico geral antes de cada dádiva, a realização de análises sanguíneas anuais e a análise de doenças infecciosas em cada dádiva.