Época valia 40% da faturação anual das empresas e a maioria vai falir, avisam associações.
Corpo do artigo
A entrada no ano 2021 vai ter menos festa e fogo de artifício. O Governo já proibiu os eventos de rua e a grande maioria das câmaras não vai ter sessões de fogo de artifício. A culpa, dizem quase todas as que suspenderam a tradição, é da pandemia que não permite ajuntamentos. Mas as associações de pirotecnia não percebem o argumento e avisam que, sem uma época que vale 40% da faturação, a maioria vai falir.
O JN perguntou às 278 câmaras de Portugal continental se vão ter fogo de artifício na passagem de ano. Das 201 que responderam, apenas 20 disseram que sim. Há 10 que estão a avaliar e 171 não vão ter.
De referir que a tradição de organizar espetáculos pirotécnicos não é transversal a todo o país e há câmaras que já não costumavam investir em fogo. Contudo, entre as que contrataram o serviço no ano passado, há muitos cancelamentos. Chaves é um dos muitos municípios que tinham o fogo programado "mas foi cancelado", disse a Autarquia. Em Vila Real, o Arraial de Ano Novo é tradição interrompida pela primeira vez desde 2013. Com maior ou menor criatividade, alguns municípios apostam em eventos, sobretudo virtuais, para não deixar cair a celebração que, admitem, vai ser contida.
Mesma verba
Entre os concelhos que têm sessão agendada, nenhum vai investir mais do que no ano passado. Alguns admitem gastar o mesmo e a maioria até que gastará menos. Faro, por exemplo, vai passar o ano com um "apontamento singelo" de investimento "muito inferior". Em Peniche também "será menor". Santarém escolheu "um local diferente do habitual para as pessoas verem de casa". Já Montalegre vai ter apenas uma sessão a partir do castelo. "Para ver se esconjuramos este maldito vírus", justifica Orlando Alves, autarca do município.
Quem não percebe a opção são as associações do setor da pirotecnia. "Obviamente que não concordamos porque o fogo de artifício é visível a uma distância muito grande", argumenta Carlos Macedo, da Associação Portuguesa dos Industriais de Pirotecnia e Explosivos. A passagem de ano corresponde "a cerca de 40% da faturação anual" do setor e a sobrevivência será "impossível para a maioria das empresas" que não tenham serviço a 1 de janeiro.
Pouca adesão
Pedro Gonçalves, da Anepe, tem tentado convencer os municípios "mas a adesão não tem sido grande" e a previsão é de quebra "quase total" da faturação.
Num setor recheado de microempresas familiares, a produção industrial está parada desde março, pois não há onde armazenar o fogo, há empresas que faturaram zero em 2020, muitas despediram e algumas já faliram. "É verdadeiramente dramático, tanta falta nos faria esta passagem de ano", lamenta Pedro Gonçalves.