Falando pela primeira vez sobre o caso que envolve João Galamba, António Costa validou a atitude do ministro das Infraestruturas ao dar o alerta para o "roubo" do computador pelo ex-adjunto Frederico Pinheiro. Garantiu que ninguém do Governo deu ordens ao SIS para recuperá-lo.
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Em declarações à RTP à porta do aeroporto de Lisboa, onde chegou esta segunda-feira à noite, o primeiro-ministro disse, referindo-se ao roubo do computador pelo ex-adjunto de Galamba, que "o que se passou nem a título de exceção é admissível" e considerou "legítimo" que um ministro demita "um colaborador em quem perdeu a confiança".
O primeiro-ministro defendeu que "é muito claro que o ministro não escondeu nem tentou esconder nenhum documento da comissão parlamentar de inquérito" sobre a TAP, e considera "normal" que, perante um roubo, "haja um alerta". Por outro lado, também notou "uma outra dimensão" do caso, relacionada com a "atitude do Governo na governação, que tem de ser exemplar na credibilidade das instituições e que foi afetada".
Quanto ao Serviço de Informações de Segurança (SIS), Costa reiterou que "não foi chamado a intervir" e que "ninguém no Governo deu ordens ao SIS para fazer isto ou aquilo". "Há um roubo de um computador com documentação classificada, o ministro deu alerta e o SIS agiu em função do alerta e no quadro das competências legais", afirmou, assegurando que "ninguém no Governo deu ordens ao SIS para fazer isto ou aquilo". "Não houve nenhuma ordem ao SIS, nem de São Bento, nem de nenhum membro do Governo. O que houve foi um alerta do Ministério e as autoridades agiram em conformidade com as suas competências", reiterou.
O primeiro-ministro adiantou que vai falar pessoalmente com João Galamba na terça-feira de manhã, "porque há coisas que não se tratam no estrangeiro". Questionado sobre a eventual saída do ministro, Costa disse que primeiro falará com o governante e depois dirá "o que entender dever dizer".
Antes, em declarações por escrito ao "Observador", o gabinete do chefe de Governo já tinha dito que "não foi nem tinha de ser informado" da atuação do SIS e que não "tomou qualquer diligência" para a recuperação do computador. Também defendeu que o ministro das Infraestruturas "deu - e bem - o alerta pelo roubo do computador com documentos classificados". Para o primeiro-ministro, "as autoridades agiram em conformidade no âmbito das suas competências legais."
Não podemos desfocar ou isto parece uma novela
Ainda falando à RTP, sobre o momento conturbado a nível político, Costa apelou a que se distinga "a essência dos eventos" e, falando da guerra, da crise energética e da inflação, chamou esses casos de "episódios vários que suscitam grande atenção, que se vão canalizando uns aos outros".
"Não podemos desfocar-nos do essencial e, às tantas, isto parece uma novela em que cada episódio vai evoluindo ao sabor dos acontecimentos, os personagens vão aparecendo ou desaparecendo. Eu dedico-me pouco a novelas", atirou, defendendo que a comissão de inquérito à TAP "deve ser respeitada".
O mais importante, defendeu Costa, é, em primeiro lugar, que "o país continue a dispor de uma companhia estratégica", atacando "os que nunca apresentaram alternativa", em segundo, "o processo de privatização, que é importante para o futuro da empresa", e, em terceiro, "havendo dúvidas sobre o que tem acontecido na TAP, há uma comissão parlamentar de inquérito em curso que deve ser respeitada como o funcionamento dos tribunais".
"Se as comissões de inquérito passam a ser transformadas numa arena de combate político, quem o faz fragiliza um dos mais importantes instrumentos de fiscalização do Governo pela Assembleia da República", considerou o chefe de Governo, aconselhando "prudência na forma como se desbarata e desprestigia a mais valia das comissões de inquérito". Com críticas a Luís Montenegro: "Contra insistências que vou ouvindo, designadamente do líder do PSD, não comento o que se passa nas comissões parlamentares de inquérito. O meu dever é esperar. Em função delas, tirar-se-ão ilações políticas que houver a tirar."