António Vitorino desiste de recandidatura e Amy Pope é eleita diretora-geral da OIM
O português António Vitorino retirou, esta segunda-feira, a recandidatura à liderança da Organização Internacional para as Migrações (OIM), após ter perdido a primeira votação para a norte-americana Amy Pope, que dirigirá a instituição, revelou à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros.
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"Hoje, durante a primeira volta, o resultado apontou para um apoio maior para a candidata americana e o senhor António Vitorino tomou a decisão de retirar a sua candidatura", disse João Gomes Cravinho em declarações por telefone a partir de Genebra, onde se encontra a acompanhar a votação para a OIM.
A OIM já confirmou oficialmente que Amy Pope, 49 anos, ex-adjunta de Vitorino, e que contava com o apoio dos Estados Unidos, será a nova diretora-geral da agência que integra o sistema das Nações Unidas, durante os próximos cinco anos, e a primeira mulher a exercer o cargo.
"Pensamos que ele teria sido, de facto, o melhor candidato para os próximos cinco anos, mas respeitamos [a decisão], é a democracia a funcionar no sistema multilateral", comentou o ministro, deixando elogios e orgulho do trabalho de António Vitorino no seu mandato, iniciado em 2018, em tempos "extremamente difíceis, com grandes crises internacionais, incluindo a pandemia [de covid-19]" ou o Afeganistão.
De acordo com o regulamento da OIM, o diretor-geral é eleito por maioria de dois terços do Conselho, numa eleição por voto secreto, mas Pope não conseguiu apoio suficiente à primeira volta, ao obter 98 votos contra os 67 do antigo ministro português, de acordo com fontes diplomáticas citadas pela agência norte-americana AP.
Amy Pope, de 49 anos, contava com o apoio dos EUA, enquanto Vitorino, de 66, tinha o apoio da UE.
Para João Gomes Cravinho, era "muitíssimo difícil concorrer com uma candidata dos Estados Unidos, que têm uma capacidade de afirmação diplomática internacional que vai muito para além daquilo que é possível".
O governante recordou que desde os anos 70, a OIM tem sido liderada pelos Estados Unidos e que, em 2018, Vitorino "quebrou esse ciclo", o que só foi possível por ter como adversário um candidato apoiado pela então administração de Washington, liderada por Donald Trump [republicano], noutras circunstâncias internacionais, em que não conseguiu impor a sua vontade.
"Passados cinco anos, há uma outra administração [do democrata Joe Biden], outra capacidade de afirmação internacional, muito ativa diplomaticamente em todas as frentes e todas as partes do mundo, e foi isso que fez a diferença em relação a um país como Portugal, apesar do excelente registo de trabalho do Dr. António Vitorino", comentou.
Nesse sentido, João Gomes Cravinho considera que o diretor-geral cessante construiu no seu mandato "uma organização muito mais sólida, muito mais estruturada, muito mais capaz de responder aos desafios que, infelizmente, provavelmente continuarão a crescer".
Marcelo elogia trabalho de Vitorino e acredita que ainda irá servir Portugal no futuro
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou o trabalho de António Vitorino como diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), considerando que foi excelente e imprimiu "nova dinâmica" a esta organização.
Numa mensagem publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a convicção de que António Vitorino "terá mais oportunidades de pôr as suas capacidades pessoais e profissionais ao serviço de Portugal e do mundo". "Ao concluir o seu mandato como diretor-geral do organização internacional das migrações felicito o Dr. António Vitorino pela excelência do trabalho que fez ao longo destes anos, que se traduziu no significativo alargamento do apoio da OIM a dezenas de milhões de migrantes à volta do mundo", escreveu o chefe de Estado, numa mensagem divulgada logo depois.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino "pôs ao serviço daquela organização das Nações Unidas as suas enormes capacidades pessoais e profissionais imprimindo uma nova dinâmica e alargando muito significativamente o âmbito da sua atuação". "Felicito por isso o Dr. António Vitorino por aquele excelente trabalho, certo que terá mais oportunidades de pôr as suas capacidades pessoais e profissionais ao serviço de Portugal e do mundo", acrescentou o presidente da República.
Santos Silva manifesta orgulho no trabalho de António Vitorino
O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, manifestou o seu orgulho no trabalho de António Vitorino à frente da Organização Internacional para as Migrações (OIM), considerando que em democracia nem sempre se pode ganhar.
"O que eu quero dizer é o seguinte: eu tenho muito orgulho que António Vitorino tenha sido eleito há cinco anos diretor-geral da Organização Internacional das Migrações. Foi uma campanha muito viva e foi uma campanha vitoriosa do lado de Portugal e foi muito importante", afirmou Augusto Santos Silva em declarações aos jornalistas em Paris.
Sobre a derrota da candidatura de António Vitorino para um segundo mandato à frente da Organização Internacional das Migrações, Augusto Santos Silva disse que perder este tipo de votações internacionais é algo que acontece. "Não teve o número de votos, acontece, umas vezes ganha-se outras vezes perde-se, como qualquer democrata. Eu tive eleições que ganhei e eleições que perdi, evidentemente que quando perdemos não ficamos felizes, mas neste dia quero dizer que António Vitorino, tal como tinha acontecido no passado, mais uma vez serviu bem Portugal numa tarefa particularmente difícil", declarou o presidente da Assembleia da República.
Assumiu o cargo em 2018
Desde que foi fundada, há 72 anos, a OIM teve dez diretores-gerais, oito dos quais norte-americanos.
Vitorino assumiu o cargo em 2018, depois de os países membros da OIM terem rejeitado um candidato apresentado pela administração de Donald Trump. O ex-presidente retirou os Estados Unidos do principal órgão de direitos humanos da ONU, evitou o globalismo e adotou a política "América primeiro", que lhe valeu a oposição de muitos países.
A eleição atual ocorre num momento em que há um grande movimento de migrantes, que abandonam os respetivos países por fatores como os conflitos, as dificuldades económicas e o impacto crescente das alterações climáticas.
A OIM tem cerca de 19 mil funcionários em 171 países que fornecem aos migrantes alimentos, água, abrigo e ajuda burocrática. A organização está a lidar com crises de migração em massa em locais tão diversos como a fronteira entre os Estados Unidos e o México, o Mediterrâneo central, o Bangladesh, a Ucrânia e o Sudão.