Inês Faria inspira-se em pedagogias alternativas, que incentivam a autonomia, e tem as quatro vagas ocupadas até 2023.
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Tomás, 2 anos, tira os pratos de cerâmica do armário e distribui-os pela mesa, um a um, enquanto Inês Faria, 34 anos, lhe recorda o nome dos amiguinhos que também vão almoçar, para que possa calcular as quantidades. A operação é repetida com os garfos, com os babetes e com os copos de vidro, enquanto Afonso e Júlia, ambos com 18 meses, se sentam à mesa para comer sozinhos. A ama independente só interfere se necessitarem dela.
Antes de iniciar a sua atividade como ama credenciada pela Segurança Social, em 2016, Inês licenciou-se em Educação de Infância e trabalhou em seis IPSS e instituições privadas, em várias cidades do país. Contudo, deparava-se sempre com métodos e práticas com as quais não se identificava e acabava por se despedir. Os valores pedidos pelos trespasses fizeram-na abandonar a ideia de abrir uma instituição, mas não a de continuar a ser educadora.
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Em 2016, foi tratar do processo para ser ama independente, porque "queria ter tudo direitinho", e ficou surpreendida quando constatou que era o primeiro processo a ser tratado pela Segurança Social de Leiria, pelo que demorou mais tempo do que previa. "Ao início, tentaram dissuadir-me, porque achavam que era muito nova", conta. Mas, face à persistência de Inês, ao fim de oito meses, obteve a credenciação.
Além dessa dificuldade, a educadora discorda de algumas obrigações previstas na legislação, por as considerar desajustadas à realidade. "A lei das amas foi feita por alguém que nunca pôs os pés numa creche". Defende ainda que devia estar isenta de IVA, e não ser taxada a 23%, uma vez que tem de cumprir as mesmas regras do que as instituições e é considerada uma resposta social.
Porta aberta aos pais
Com uma menina e três rapazes a cargo, entre os 7 meses e os 2 anos, a ama é contactada todos os dias por pais à procura de vagas, por se identificarem com o projeto educativo dos Miminhos da Inês, inspirado nas abordagens pedagógicas Reggio Emilia, Montessori e Pikler. "Dos 0 aos 3 anos, as crianças não socializam, porque estão a construir o "eu". Não precisam de um adulto para brincar, mas que prepare o ambiente com materiais que vão ao encontro do que estão a explorar", explica. Nesse sentido, assume-se como uma observadora.
A casa da ama tem sempre a porta aberta para os pais, não há horários definidos para a sesta e são os miúdos que escolhem com o que brincar. Inês prefere brinquedos estruturados, como caixas, molas, colheres de pau ou amêndoas com casca, a brinquedos didáticos, que fazem as coisas pelas crianças. Defensora das brincadeiras ao ar livre, nem a chuva a impede de os levar à rua. Só têm de vestir as gabardinas e calçar as galochas. "Crescem em movimento livre e são mais calmos, empáticos e carinhosos" do que os meninos que estão nas creches.