Programa do S. João monitoriza à distância e dá assistência a doentes respiratórios graves dependentes de ventilador.
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Manter o doente longe do hospital é cada vez mais uma prioridade. Pelos riscos que se evitam e pelos custos que representam as urgências e os internamentos. O programa CAI-Vent (Centro de Apoio Integrado ao Doente com Ventilação Mecânica Prolongada) monitoriza e presta assistência em casa a doentes respiratórios graves e os resultados são surpreendentes: em meio ano, o Hospital de S. João, no Porto, conseguiu que os participantes reduzissem em 78% as idas à urgência. Os dias de internamento diminuíram perto de 71% e a poupança é de milhares de euros.
Criado há cerca de um ano e meio, o projeto inédito no país resulta de uma parceria entre o S. João, os agrupamentos de centros de saúde (Aces) Porto Oriental e Maia-Valongo e empresas privadas de cuidados respiratórios.
Atualmente, há 38 doentes integrados no projeto. Têm patologia respiratória grave, precisam de um ventilador praticamente todo o dia e ganharam qualidade de vida. Têm menos agudizações da doença e passam muito menos tempo no hospital. É o caso de Rui Pedro Ribeiro, 23 anos, doente com distrofia muscular e dependente de ventilação mecânica, dia e noite. Rui Pedro é atleta federado de desporto adaptado (Boccia), estudante universitário e um exemplo de superação, nas palavras da equipa que o segue.
Telefone e avaliações
O sucesso do projeto está na monitorização à distância - o ventilador do doente está ligado a um modem, que envia informação para o hospital, permitindo detetar e antecipar problemas - num apoio telefónico disponível 24 horas por dia e na assistência ao domicílio. Cada doente recebe duas visitas de rotina por mês, uma assegurada por uma equipa do hospital, outra por enfermeiros dos centros de saúde, explica Miguel Gonçalves, coordenador do CAI_Vent.
Diferente da hospitalização domiciliária, este projeto pretende evitar as idas à urgência e os internamentos. "São doentes que, quando vão ao hospital, consomem muitos recursos: 90% ficam internados e precisam de cuidados intermédios ou intensivos", realça o fisioterapeuta.
No primeiro semestre de 2019, o projeto permitiu uma redução de 395 dias de internamento dos participantes face ao mesmo período de 2018. E ainda uma diminuição de 163 episódios de urgência e de 55 consultas externas. São episódios hospitalares evitados que representam ganhos de cerca de 250 mil euros, realça Miguel Gonçalves. Pela ligação à Medicina Intensiva, o CAI_Vent também assume um papel importante na antecipação de altas dos cuidados intensivos, acrescentou o responsável.