Já há 28 unidades de saúde com serviços de hospitalização domiciliária. Oferta aumentou para libertar camas para a covid-19. Internar em casa reduz risco de infeção pelo novo coronavírus.
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Em plena pandemia, os hospitais aproveitaram as unidades de hospitalização domiciliária para internar mais doentes em casa, libertar camas para doentes covid-19 e reduzir riscos de infeção. Em maio último, o internamento de doentes em casa aumentou 396% face ao mesmo período de 2019. Naquele mês, um total de 2722 doentes estiveram hospitalizados no domicílio, quase tantos como em todo o ano de 2019 (cerca de três mil).
A estratégia de alargamento da hospitalização domiciliária a todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) arrancou no final de 2018, andou "a marcar passo" durante alguns meses de 2019 e cresceu substancialmente este ano. De dez hospitais e 549 doentes tratados em casa em maio do ano passado, houve um incremento para 2722 doentes em hospitalização domiciliária em maio deste ano, de um total de 28 hospitais. Até ao final do ano, deverão ser tratados em casa cerca de 11 mil doentes, quase quatro vezes mais do que em 2019.
cobertura perto dos 100%
Faltam dez hospitais para o SNS atingir a cobertura total nesta área apontada como o futuro da hospitalização, meta que deverá ser alcançada até 2021. "Os hospitais que ainda não têm estas unidades assinaram em janeiro, em Beja, um compromisso de adesão ao programa", disse, ao JN, Delfim Rodrigues, coordenador do Programa Nacional de Hospitalização Domiciliária.
Daqueles que já tinham os serviços em funcionamento, muitos foram os que aproveitaram a pandemia para expandi-los. Na fase mais conturbada, "os hospitais aumentaram a oferta na hospitalização domiciliária para poderem libertar camas nos serviços, caso fosse necessário", explicou Delfim Rodrigues.
Na base desta equação estavam duas variáveis: a qualidade e segurança para doentes e famílias não covid; e a redução do risco de infeção dos profissionais de saúde, explicou o responsável.
O número de internados no domicílio em maio também inclui alguns infetados com covid-19, uma vez que os serviços de hospitalização domiciliária foram chamados, através de uma norma da Direção-Geral da ´Saúde, a fazer o seguimento destes doentes, desde que cumprissem sete dias em enfermaria e tivessem condições de isolamento em casa.
Retorno de milhões
A margem de crescimento nos próximos anos é enorme e o retorno ainda maior. Delfim Rodrigues acredita que a longo prazo será possível internar em casa entre 400 a 600 mil doentes, que ficam 45% mais baratos ao SNS. "Isto significa que, a médio e longo prazo, podemos poupar entre 500 milhões a 700 milhões de euros", estima.
Mas há outros ganhos que pesam na balança, tais como os níveis de satisfação dos doentes internados em casa (entre 95% e 100%), a redução da taxa de mortalidade em 24% e a redução em 30% da taxa de reinternamento (nas 72 horas a 90 dias seguintes).
Números importantes especialmente nas faixas etárias mais altas. "Há um estudo que conclui que um terço dos doentes com mais de 70 anos e 50% dos doentes com mais de 85 anos, quando têm alta hospitalar saem com o estado de saúde agravado em relação ao momento da admissão", conclui o coordenador do programa.
Que vantagens?
Humaniza os cuidados, reduz complicações (quedas, úlceras de pressão, desorientação) e reinternamentos e infeções hospitalares.
Que critérios?
Implica o consentimento do doente, a casa não pode ser muito distante do hospital, tem de ter luz, água, saneamento e um telefone/telemóvel. Se o doente não for autónomo, é necessário um cuidador.
Doenças elegíveis
Pneumonias, infeções urinárias e da pele, doença pulmonar obstrutiva crónica e insuficiência cardíaca são elegíveis para internar em casa.
Meta a dez anos
Estudos internacionais indicam que 40% a 60% dos doentes hospitalizados podem e devem ser internados em casa. O coordenador do Programa Nacional de Hospitalização Domiciliária acredita que o país pode atingir esta meta em dez anos.
Efeitos a evitar
Um quinto dos doentes com 85 anos ou mais anos morre nos 30 dias que se seguem à alta hospitalar, 30% entram em declínio funcional e 40% necessitam de cuidador a tempo inteiro, segundo um estudo internacional citado por Delfim Rodrigues.