Vêm às centenas, espalham-se de norte a sul do país, trazem comitivas consideráveis e mexem com as economias locais. Os praticantes de orientação estão a mudar a face das cidades. E não só, também as zonas mais isoladas são beneficiadas com este desporto transversal
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Cerca de 1000 participantes, 18 países representados, gente de todas as idades a interagir com a cidade durante três dias e noites consecutivas, percorrendo ruas, espaços fechados, locais de visita obrigatória nos guias turísticos oficiais e outros de que poucos sequer se lembram que existem ou convenientemente ignoram a sua existência. É assim a Porto City Race, que decorreu no último fim de semana, e é considerada a competição rainha da orientação em Portugal - faz mesmo parte do circuito europeu da especialidade.
A Porto City Race é o maior exemplo de como os praticantes desta modalidade nascida na Escandinávia há 100 anos estão a alterar o conceito da prática desportiva dentro de perímetro urbano. "Nós entramos pela cidade dentro, literalmente", resume Fernando Costa, responsável pela organização do evento.
Ao longo de três dias, toda a comitiva que o Porto acolheu mexeu com a dinâmica local. "Trouxe mais dinheiro para os cofres da cidade, agitou a economia, encheu hotéis e restaurantes, entre outros", desfia o promotor. "Antes, a orientação era, essencialmente, praticada em zonas isoladas de floresta. De há uns anos a esta parte focou-se nas cidades", explica Fernando Costa, 58 anos, militar de carreira. E não profissional da orientação, como todos os que deixam apaixonar-se "pelo mais democrático dos desportos", porque, por definição e conceito, pode ser praticado por atletas de todas as idades. "Cria uma interatividade grande com as comunidades locais. É muito raro que um desporto passe à porta de casa dos moradores", acrescenta. De ilhas ao Centro Histórico, de bairros sociais a símbolos das cidades.
Impacto na pequena economia não se esgota nas datas das provas, dado que muitos dos inscritos regressam mais tarde para fazer turismo
A Porto City Race é retrato exemplificador daquilo que se passa, embora a uma escala menor, em todas as cidades com registo de provas oficiais de orientação que compõem a Portugal Race. O circuito nacional contempla passagens por 13 destinos em diferentes alturas do ano. A média em cada um deles é de "entre a 400 a 500" participantes. O impacto na pequena economia não se esgota apenas nas datas das provas, dado que muitos dos inscritos regressam mais tarde para fazer turismo nos locais onde antes praticaram desporto, trazendo, boa parte das vezes, pessoas de fora da modalidade", sublinha António Amador, 51 anos, presidente da Federação Portuguesa de Orientação. Mais uma vez saem a ganhar hotéis e alojamentos locais, restaurantes, pequeno e médio comércio, toda uma roda-viva de atividades que ressuscitam atividade e dinamismo.
Desde há vários anos, "sobretudo a partir de 2000", que Portugal começou também a ser o favorito de praticantes estrangeiros. É habitual tê-los como hóspedes de locais de estágio em diversas zonas do país, nomeadamente naquelas onde o turismo e os turistas não chegam com tanta facilidade. "Somos procurados porque temos bom clima, mapas de grande qualidade, traçados com qualidade acima da média e variedade de terrenos como não se encontra na Europa", descreve António Amador. "Tanto existem dunas junto à costa, como boa montanha, assim como planícies perfeitas para os orientadores", completa Fernando Costa. Receita ideal para adeptos estrangeiros que não conseguem encontrar tamanha variedade de características nos países estrangeiros e por cá fazem escala em busca de novas energias.
Hóteis que tiveram de reabrir portas
Geralmente, as comitivas estrangeiras que treinam em Portugal durante períodos de uma semana, em qualquer altura do ano, e escolhem locais como a Beira Alta, a costa marítima na região de Leiria ou o Alentejo como destino.
"De janeiro até ao momento, portanto em menos de um semestre, tivemos 3000 atletas de outras nacionalidades em estágio. Nomeadamente da Finlândia, Suécia, Dinamarca e Suíça, as melhores seleções do Mundo. Cada uma das comitivas traz 40 elementos de cada vez". Pelo menos.
Casos houve, até, em que hotéis que se encontravam sazonalmente encerrados por falta de atividade tiveram que reabrir portas para receber amantes da orientação. Sucedeu no Alentejo, na zona de Castelo de Vide, e é exemplo paradigmático de como este desporto paulatinamente tem alterado dinâmicas em zonas habitualmente votadas ao esquecimento e refoçado o movimento noutras