A ministra da Saúde apresentou, esta manhã de sexta-feira, no Parlamento as respostas para solucionar os problemas das urgências de obstetrícia, que têm encerrado por falta de médicos. Desafiada a pôr o lugar à disposição pelo Chega e criticada por estar "deslumbrada pela popularidade" pela Iniciativa Liberal, Marta Temido garantiu que continua a lutar pelo SNS.
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Chamada pelo Chega para um debate de urgência sobre o caos nas urgências de obstetrícia de todo o país, e instada a explicar como vai resolver o problema, Marta Temido resumiu as respostas numa frase.
"Contratar todos, formar mais, aumentar as idoneidades formativas, alargar o recrutamento ao estrangeiro, pagar melhor designadamente com a proposta que apresentámos ontem, e reconhecer que este é um problema sistémico e não com cores políticas", afirmou a ministra da Saúde, já no final do debate. Apresentando o exemplo de França, com uma notícia de 14 de junho que reporta problemas nas maternidades daquele país.
"Justifica o que passamos? Não. É único? Não, não é. Quem quer reconhecer os problemas fala verdade sobre eles", reagiu a ministra.
A criação de uma nova comissão para articular a rede de urgência de obstetrícia, tal como foi feito durante a pandemia para a Medicina Intensiva, motivou duras críticas de André Ventura. "Não precisamos de mais comissões, estudos ou pareceres. Precisamos de ação, de soluções. Seja capaz de o fazer ou ponha o lugar à disposição", desafiou o deputado do Chega.
O anúncio do concurso para colocar médicos, que já trabalham como internos no SNS, como uma solução para o atual problema foi também criticado pela Iniciativa Liberal. O deputado João Cotrim Figueiredo acusou a "máquina de propaganda do PS" de querer esconder o colapso do SNS e atacou a ministra, por ter chegado ao Governo como técnica independente e ser agora "uma militante assumida do partido" e eventual candidata à liderança do mesmo, "deslumbrada pela popularidade".
O Bloco de Esquerda, pela voz de Pedro Filipe Soares, afirmou que o mandato de Marta Temido fica como o que mais aumentou o recurso a tarefeiros no SNS. "Como aceita pagar-lhes num único turno o mesmo que um médico ganha num mês?", questionou o deputado, considerando que a proposta apresentada ontem aos sindicatos médicos para valorizar a remuneração nas urgências "favorece a manutenção dos tarefeiros".
Durante o debate, Marta Temido foi confrontada pelos vários partidos sobre a morte de um bebé no hospital de Caldas da Rainha na semana passada e sobre o fecho de vários serviços de urgência e criticada pela inércia perante um problema com vários anos.
Pandemia e queda do Governo
Na resposta, a ministra assegurou que há uma estratégia para os problemas estruturais, assente na Lei de Bases da Saúde e no Estatuto do SNS, cuja implementação tarda porque, justificou, pelo meio houve uma pandemia e a queda do Governo.
"O novo estatuto do SNS "tem soluções estratégicas, uma visão em termos de recursos humanos com a autonomia das contratações, com incentivos aos profissionais de saúde e com pactos de permanência", recordou.
A governante disse também que o Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) é "outro dos instrumentos estratégicos" que o Governo tem em mãos e que prevê "desde o principio, não só um conjunto de investimentos, mas um conjunto de reformas estruturais que visavam melhorar a rede de referenciação do SNS".
"Aquilo de que falamos hoje não é nada que não tivéssemos previsto, é apenas algo que esteve adiado por clara impossibilidade de concretização", sustentou Marta Temido.