Dar voz a quem dela necessita é o ADN do JN, e este ano não foi exceção. As notícias valem mais quando ajudam a fintar o destino.
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A proximidade com os leitores - o ADN de sempre do JN - voltou a ser um trunfo em 2024. Num ano novamente marcado por guerras, em que a inflação e as taxas de juros começaram a baixar, mas não o suficiente, em muitos casos, para corresponder às necessidades de muita gente, pelo que, com notícias e reportagens fomos ao encontro de quem mais necessitava e despertámos ondas de solidariedade que permitiram fintar destinos que se afiguravam sinuosos. Estas são algumas histórias.
Braga: Sandro conseguiu medicamento
No dia 23 de janeiro, o JN deu voz ao desespero da família de Sandro, um jovem de Braga, de 13 anos, que tem síndrome de Williams com autismo e que, para controlar os efeitos da doença, toma um medicamento que os pais não estavam a conseguir encontrar nas farmácias. Nas horas seguintes à publicação da notícia, a família recebeu contactos de pessoas de todo o país que conseguiram disponibilizar o fármaco Concerta (metilfenidato).
Logo no dia em que a notícia foi publicada, a mãe de Sandro, Ana Pereira, garantiu que a família tinha recebido duas “ótimas notícias” com a disponibilização de uma caixa e meia do medicamento através de pessoas de Famalicão e de Lisboa que conheceram o caso pela reportagem publicada pelo JN.
Gaia: Pipinho com apoio para ir a Cuba
É em Cuba que mora a esperança que Mara e Nelson Ferreira acalentam de ver o filho, Filipe - conhecido como Pipinho -, andar, mas são precisos cerca de 50 mil euros para fazer um ciclo de três meses de terapias intensivas naquele país da América Central. Em agosto, o JN noticiou a campanha de angariação de fundos que a família de Avintes, em Gaia, está a fazer, e a solidariedade dos leitores permitiu reunir boa parte da verba necessária para que o rapaz de 18 anos, que não vê, não anda nem fala devido à doença rara com que nasceu - a síndrome de Norrie -, faça o tratamento.
É também com a ajuda de todos que Pipinho tem conseguido dar continuidade às terapêuticas diárias, numa clínica privada, que, no final de cada mês, representam uma despesa de perto de dois mil euros para a família, cujo orçamento depende apenas do salário mínimo auferido por Nelson, já que Mara teve de deixar de trabalhar há vários anos para dar apoio ao filho.
Gaia: Simão teve verbas para terapias
Com epilepsia grave e duas doenças raras, o pequeno Simão, de quatro anos, precisa de várias terapias intensivas cujos custos mensais ascendem aos 2500 euros. Para fazer face às despesas avultadas, nas quais a mãe, Teresa Alves, não inclui deslocações para a clínica, em Espinho, medicação ou fraldas, a família de Gaia tem lançado mão de eventos solidários para angariar fundos. O JN narrou, em fevereiro, a luta da família Alves, que expôs no Facebook a campanha solidária “Juntos pelo Simãozinho”, e chegaram mais donativos à conta solidária do menino, que tem uma incapacidade de 95%.
Gaia: Donativos ajudaram Noah
Diagnosticado com síndrome genitopatelar, Noah, de três anos, tem graves malformações e precisa de vários tratamentos intensivos, que custam cerca de 500 euros por mês, e equipamentos de apoio específicos - e dispendiosos - para ter mais qualidade de vida. Sozinha, a mãe, Adriana Anjos, que há seis anos deixou o Brasil, onde tem a família, e está a morar em Canidelo, Gaia, não consegue, sem ajuda, fazer face àquelas despesas, a que se somam os custos com a medicação e comida específica do menino - devido às malformações de que padece, não pode ingerir alimentos pela boca, sendo alimentado através de uma sonda de gastrostomia.
O JN contou a história de Noah no início deste mês, e a solidariedade dos leitores permitiu angariar mais donativos para ajudar a pagar as terapias.
Marinha Grande: Alunos expulsos readmitidos
Seis alunos da Escola Profissional e Artística da Marinha Grande (EPAMG), provenientes de São Tomé e Príncipe, foram expulsos, no início deste mês, do alojamento onde viviam, e abandonados na rua com os seus pertences, alegadamente devido a “problemas disciplinares na escola, ao barulho e à falta de limpeza da camarata onde dormiam”.
Após o JN denunciar a situação, a PSP interveio, os jovens voltaram para o hostel, e passou a ser assegurado o jantar a todos os estudantes na EPAMG, em vez de cozinharem num espaço sem condições, que foi encerrado. Ao ter conhecimento da notícia, o embaixador de São Tomé e Príncipe em Portugal, Esterline Género, deslocou-se à escola, na mesma semana, para se inteirar da situação.
Óbidos: Bombeira recebe despesas de óbito
Bombeira nos Voluntários de Óbidos, Adélia Antunes teve conhecimento, em junho, de que não vai ser indemnizada pela morte do marido, quando combatia um incêndio em 2022, por a seguradora entender que foi “morte natural”. Embora confirme que Carlos tinha problemas cardíacos, Adélia acredita que faleceu devido ao stresse e à exaustão, após ter estado a combater as chamas na serra da Estrela.
O município avançou para tribunal, mas a viúva continua sem saber se vai receber uma pensão de preço de sangue, apesar de o prazo de resposta ter sido ultrapassado. A notícia do JN levou a que a Liga dos Bombeiros lhe pagasse as despesas de funeral, embora não lhe tivesse dado mais ajuda, mesmo encontrando-se em situação de insolvência pessoal.
Porto: Doações ajudam a matar a fome
Após três meses a atravessar graves dificuldades financeiras, os cerca de 200 alunos angolanos e são-tomenses da Escola Profissional de Economia Social (EPES), no Porto, receberam as bolsas de estudo em atraso, este mês.
Sem qualquer rendimento, chegaram a passar fome. A ajuda da associação Porto Solidário e de algumas juntas de freguesia foi determinante, mas não conseguiram chegar a todos. Apesar da gravidade da situação, a Escola Profissional de Economia Social alegou não ter fundo de maneio para suprir o atraso na transferência de fundos comunitários, e remeteu a responsabilidade de ajudar para as famílias.
Na sequência da publicação de uma notícia no JN, gerou-se uma onda de solidariedade e várias pessoas contribuíram com alimentos e agasalhos.
Matosinhos: Enzo já tem cadeira
Além das terapias muito dispendiosas de que depende para ganhar algum tónus muscular e tentar andar, o pequeno Enzo, que nasceu há cinco anos com uma síndrome muito rara fruto de uma mutação genética, precisava de uma cadeira de rodas adaptada.
Em setembro, o “Jornal de Notícias” deu a conhecer a batalha travada diariamente pelos pais, Alexandre e Cláudia Mendes, de Matosinhos, e da divulgação resultaram frutos: os donativos angariados ajudaram a adquirir o equipamento, o qual contribui para melhorar a mobilidade do menino, que, além de ter paralisia cerebral, apresenta um quadro clínico de distonia, com contrações musculares involuntárias, e hipotonia, causada pela falta de tónus nos músculos, o que o impede de caminhar.
A angariação de verbas ajudou ainda a família do corajoso Enzo a pagar as terapias intensivas, cujo custo ascende a dois mil euros mensais, um valor elevado para o casal de Matosinhos.