O movimento por justiça climática promete um ano marcado por protestos para colocar a luta ambiental na ordem do dia, numa agenda de novas iniciativas que será definida no 8.º Encontro Nacional de Justiça Climática. O evento tem lugar esta sexta-feira e sábado, em Coimbra, e espera unir cidadãos, ativistas e várias organizações ambientais em torno da temática. É a primeira vez que se irá realizar fora de Lisboa.
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Além da partilha de conhecimento e experiências durante os dois dias em que o evento é aberto a toda a sociedade civil, será ainda traçada uma agenda para este ano focada em "ações mais urgentes, como a eliminação dos combustíveis fósseis e outras preocupações a nível nacional", avançou, ao JN, Islene Façanha da ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável, uma das associações ambientalistas que está por detrás da organização do encontro.
Depois de um final de ano marcado com várias marchas e protestos nas ruas, ocupações e ações de desobediência civil, neste encontro nacional os ativistas esperam definir um plano para continuar com marchas, manifestações e outras ações de protesto, sendo que será definida, no domingo, uma agenda "de acordo com as necessidades" para o ano corrente. "Esperamos ações para o longo do ano, não só ambientais, mas também de caráter social. Teremos uma grande diversidade de ações nacionais", avançou a ativista.
"A alegria é que temos um movimento a nível nacional consolidado, cada vez mais abrangente nos assuntos que discutimos e a fazer a ponte necessária entre justiça climática e justiça social", sublinhou a ativista.
Na sexta-feira e sábado, a cidade de Coimbra abrirá portas, pela primeira vez, à edição deste ano do Encontro Nacional por Justiça Climática, onde serão debatidos temas como a energia, mineração, transição energética e incêndios. Esta edição foi coorganizada por 14 associações e coletivos ambientais, contando ainda com o apoio de outras 11.
Ter metas mais ambiciosas
Por agora, já contam com mais de 300 inscrições, ultrapassando as que conseguiram no ano passado, avançou Islene Façanha. "Como cidadãos e cidadãs conseguimos mudar e pressionar os decisores políticos a terem metas mais ambiciosas", apontou.
Além disso, as organizações que fazem parte de redes internacionais esperam uma mobilização "muito mais forte" em resposta às diretivas europeias definidas no Pacto Ecológico Europeu, como alcançar a neutralidade climática até 2050.
O encontro arranca esta sexta-feira com uma sessão ao final da tarde, no Atelier da Fábrica, em Coimbra. Durante todo o dia de sábado estão marcadas sessões de sensibilização e debates, no Departamento de Física da Universidade de Coimbra. Entre as novidades, como apontou Islene Façanha, estão palestras sobre o poder da participação pública e os mecanismos legais na luta climática e discussões sobre neocolonialismo que se debruçam sobre os impactos das ações dos países do norte nos países do sul global.
Da edição anterior saíram ações de protesto que aconteceram de norte a sul do país, como a manifestação de 25 de março, em Lisboa, promovida pelo movimento Greve Climática Estudantil, a Caravana pela Justiça Climática que, em abril, percorreu 400 quilómetros para falar com as comunidades mais afetadas pelas alterações climáticas, e o Acampamento 1,5 no sudoeste alentejano, durante o verão.
Recorde-se que no mês de novembro vários ativistas ocuparam durante uma semana escolas e faculdades em Lisboa pelo fim dos combustíveis fósseis até 2030 e a demissão do ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva. Foram detidos quatro ativistas que ocuparam a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Seguiu-se uma marcha pelo clima, na qual os manifestantes chegaram a invadir a Ordem dos Contabilistas, em Lisboa, onde o ministro estaria numa reunião. O ministro da tutela acabou por receber um grupo de ativistas no Ministério, mas à saída acabaram por se sentar à porta, colando as mãos ao chão. A PSP deteve cinco.