Aulas em semestres: "Não estamos sempre a pensar: isto vai contar para a nota"
Rita Bispo e Leonor Soares acreditam que o novo modelo semestral é "bom". As alunas do 11.º ano da Secundária Homem Cristo, que faz parte do Agrupamento de Escolas de Aveiro, estão certas de que lhes permite perceber onde podem ir melhorando ao longo do ano letivo, sem medo de terem más notas. Os testes não desaparecem, mas são menos e acompanhados de outras formas de avaliação.
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Com a semestralização, "há, na mesma, momentos de avaliação classificativa [testes], que passam a ser dois, em janeiro e em junho, em vez de três". A meio dos semestres, surgem "dois momentos em que se faz uma avaliação de caráter descritivo, a partir de critérios definidos, para dar informação ao aluno sobre o ponto em que está, as lacunas que tem e como as superar", esclarece Vítor Marques, diretor do agrupamento, sublinhando que este modelo possibilita "construir projetos transversais a longo prazo, com equipas multidisciplinares".
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Voltamos à sala de aula. O novo modelo apanhou Leonor "de surpresa", mas "está a correr muito bem. Permite-nos perceber se estamos realmente a avançar, sem termos a pressão da nota dos testes, que podem correr mal. Temos trabalhos e projetos para aprender e compensar", atenta a aluna.
Rita garante que agora é tudo "muito mais contínuo". As "avaliações descritivas ajudam-nos a saber o que temos de melhorar, a conseguirmos superar as dificuldades e a fazermos melhor. Por ser em semestres, podemos acompanhar melhor e não estamos sempre a pensar: isto vai contar para a nota".
É melhor para a "consolidação dos conteúdos", complementa o professor de Português Jorge Tribuzi.
Altera as rotinas
Vítor Marques chegou a hesitar em avançar com a semestralização. A realidade dos agrupamentos em Aveiro é muito díspar e antevia que a implementação do modelo nas suas escolas, que têm 2400 alunos repartidos por sete edifícios diferentes, não seria tarefa fácil.
Para mais, considerando que possui "70% dos professores acima dos 51 anos e 39% acima dos 60 anos" e que um diagnóstico recente demonstrou que a "capacitação digital dos docentes era de nível primário".
Refletiu, ouviu a experiência da José Estêvão - escola aveirense que se antecipara na medida, ao abrigo dos planos de inovação - e, apesar de preferir ter mais tempo para se preparar e capacitar os profissionais, avançou, em nome da estabilidade coletiva. É que este modelo provoca diversas mudanças, nomeadamente nas datas das férias e isso mexe com as famílias e os transportes públicos.
"Por questões de estabilidade familiar, pedagógica e logística, era de bom-tom que todos [os agrupamentos] partíssemos para esta modalidade", diz Vítor Marques, apontando exemplos concretos: "As famílias que têm filhos em diferentes agrupamentos ficariam com férias em períodos distintos" e haveria "dificuldades logísticas no concelho para organizar os transportes".