Decisão francesa "não retira nada aos direitos" dos israelitas, argumentou esta segunda-feira Emmanuel Macron. António Guterres sublinhou que tal ação "é um direito, não um prémio" aos palestinianos.
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Um dia após Portugal reconhecer o Estado da Palestina, França e mais países fizeram o mesmo no âmbito da conferência da solução de dois estados, em Nova Iorque. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que "nada justifica a guerra em curso em Gaza", tendo ainda condenado o antissemitismo e condicionado a abertura de uma embaixada na Palestina à libertação dos reféns.
"Chegou a hora da paz", definiu o chefe de Estado de França, que presidiu ao evento em conjunto com a Arábia Saudita, nas vésperas do debate da Assembleia Geral da ONU. "Alguns podem dizer que é tarde demais, outros podem dizer que é cedo demais, mas uma coisa é certa: não podemos esperar mais", sublinhou Macron. O líder do Eliseu enfatizou que o reconhecimento da Palestina "não retira nada aos direitos do povo de Israel, que França apoiou desde o primeiro dia" e que esta é "a única solução que permitirá a Israel viver em paz" e, por isso, é uma "derrota para o Hamas".
Condições para embaixada
Há meses alvo de acusações de Telavive, Macron homenageou as vítimas mortais do ataque do dia 7 de outubro de 2023, perpetrado pelo Hamas, e reiterou que Paris "não cessará a luta existencial contra o antissemitismo". O presidente gaulês condicionou ainda a abertura de uma embaixada na Palestina à libertação dos restantes reféns pelo Hamas e à implementação de um cessar-fogo. Também apelou a um Governo de transição em Gaza, que envolva a Autoridade Palestiniana.
Já o secretário-geral da ONU pediu fim à "punição coletiva do povo palestiniano". "Nada pode também desculpar os desenvolvimentos na Cisjordânia que representam uma ameaça existencial para uma solução de dois estados", denunciou António Guterres, que ressaltou que o reconhecimento da Palestina "é um direito, não um prémio" - contrapondo o argumento de Israel de que a ação é um "prémio ao Hamas". Sem citar diretamente os EUA, que não emitiram vistos, lamentou que tenha sido negada à delegação palestiniana a oportunidade de ser plenamente representada.
"Abismo" justifica decisão
Marcelo Rebelo de Sousa disse que "a razão pela qual esta decisão foi tomada por Portugal e por outros países agora foi o facto de ter havido uma aceleração, nos últimos anos e meses, no sentido da corrida para o abismo". O PR, citado pela agência Lusa, esclareceu que "o abismo era não deixar haver espaço para a criação de dois Estados". "Esperar mais era só atuar num momento em que já não valia a pena, porque estava consumado o facto de um só Estado [Israel]", acrescentou.
Ao ser questionado sobre o porquê de o chefe da diplomacia fazer a declaração formal de reconhecimento e não o primeiro-ministro, o chefe de Estado respondeu: "O senhor ministro foi o porta-voz do Governo por uma razão muito simples: porque se entendeu, e bem, que devia ser nas Nações Unidas". Marcelo minimizou a discordância do CDS-PP, salientando que a questão da Palestina "não fazia parte do acordo" de coligação com o PSD.