Médicos de Saúde Pública defendem ensino à distância até ao fim do mês. Governo anuncia reforço da vacinação dos professores de 6 a 9 de janeiro.
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As aulas presenciais vão ser retomadas na próxima segunda-feira, dia 10, garantiu, esta segunda-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, anunciando ainda a vacinação de reforço dos professores em casa aberta nos próximos dias 6, 7, 8 e 9. Período em que deverão ser imunizadas mais de 100 mil crianças entre os 5 e os 11 anos.
A decisão de retomar o ensino presencial na segunda-feira é contestada pelo vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Gustavo Tato Borges, que prevê um pico de 100 mil infetados por dia, no final deste mês. Na quarta-feira, há reunião no Infarmed para analisar a evolução da pandemia.
Face ao aumento exponencial do número de infetados com covid-19, Gustavo Tato Borges defende que, até ao fim de janeiro, as aulas deviam decorrer à distância. "Se os casos reduzirem mais cedo, os alunos voltam ao presencial mais cedo", explica ao JN. "Se continuarmos a ter ensino presencial, vamos continuar a interromper as aulas, em várias turmas, todos os dias". Em sentido oposto, o Bloco de Esquerda fez saber estar de acordo com o arranque das aulas presenciais.
A preocupação do vice-presidente da ANMSP prende-se, sobretudo, com as crianças dos 1.º e 2.º ciclos, por só terem levado a primeira dose da vacina. "Como não estão totalmente protegidas, vão ficar doentes mais facilmente e transmitir aos familiares mais vulneráveis". Embora concorde com Lacerda Sales, quando invoca a importância das aulas presenciais para a saúde física e mental dos alunos, Gustavo Tato Borges argumenta que deve prevalecer a proteção dos familiares mais velhos, que correm riscos acrescidos, para que as consequências mais graves não pesem na consciência de ninguém.
"O lugar dos alunos e dos professores é na escola. Nada substitui o ensino presencial", afirma o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel António Pereira. "Temos essa experiência validada por dois confinamentos". Recorda, por outro lado, que o ensino online veio criar mais desigualdades entre os estudantes, já que muitos não têm apoio em casa. "A maior parte dos professores e dos alunos está vacinada", insiste. "As escolas têm condições para reabrir, pois vão continuar a cumprir todas as regras da Direção-Geral de Saúde (DGS) e, na próxima semana, vamos ser todos testados".
Tendo em conta que as escolas estão a seguir todas as indicações da DGS, o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, Filinto Lima, também defende as aulas presenciais. "Ao tomar essa decisão, o Governo considerou a evolução da pandemia, que a maioria dos professores já tem a dose de reforço, que os alunos mais novos já têm a primeira toma da vacina e a importância da sociabilização e do seu bem-estar emocional".
Testagem reforçada
Filinto Lima considera, no entanto, que o processo de testagem da comunidade educativa, que terá início na próxima semana, devia ser mais frequente, para haver mais tranquilidade.
"No primeiro período, os alunos foram testados apenas uma vez, do 5.º ano em diante, o que é insuficiente". Gustavo Tato Borges acredita que um rastreio mensal, no caso dos alunos mais pequenos através da saliva, podia ajudar a conter a pandemia.
"A testagem devia ser feita nos dois dias anteriores ao início das aulas, pois permitiria identificar mais depressa casos positivos e evitar contactos de risco. Assim, não há o efeito protetor do teste". O médico alerta que testar mais vezes não significa que a comunidade educativa possa andar sem máscara, sem cumprir o distanciamento, que não existam bolhas, que deixe de haver horários desfasados ou de arejar as salas. "Os testes são uma fotografia do momento. Hoje, pode dar negativo e amanhã positivo, porque estava no período de incubação".
Um dia de férias no Carnaval e uma semana na Páscoa
As férias de Carnaval serão reduzidas a apenas um dia - 1 de março -, e as da Páscoa serão encurtadas para uma semana, de 11 a 18 de abril. O ano letivo para os estudantes do 9.º, 11.º e 12.º anos termina a 7 de junho, devido aos exames; para os alunos do 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 10.º anos acaba a 15, enquanto para as crianças do Pré-Escolar e do 1.º Ciclo a data é 30 de junho.