Na semana em que, ao teletrabalho, se juntaram 1,2 milhões de alunos e milhares de professores no regresso às aulas à distância, a ligação à Internet foi um desafio para uns, o caos para outros, um verdadeiro teste aos limites da paciência de muitos.
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As operadoras reconhecem que o aumento do volume de tráfego tem provocado uma sobrecarga da rede que, por sua vez, afeta a qualidade, não só nos meios rurais como nas cidades. A partir de amanhã, voltam a poder limitar o acesso de serviços não essenciais, segundo o decreto-lei publicado ontem pelo Governo.
No início deste mês, as operadoras garantiram nunca ter sido necessário acionar os planos de contingência, já que as redes tinham capacidade para suportar o tráfego. Agora, porém, dão sinais de estar a ceder face ao aumento do número de utilizadores.
Operadoras reforçam
Ao JN, fonte da Nos admite que têm sido reportadas situações de falha no serviço de Internet, garantindo que "têm sido regularizadas com toda a celeridade". Ainda assim, "estão abaixo do expectável", apesar do tráfego de dados ter crescido "exponencialmente em todo o território nacional", sobretudo "nos grandes centros urbanos e suas periferias".
A Vodafone confirma, por seu turno, "alterações significativas no comportamento das redes de comunicações" e diz que tem vindo a reforçar, desde o primeiro confinamento, a "sua monitorização, aumento da capacidade e adoção de medidas", com vista à sua otimização".
Já a Altice, dona da Meo, garante não ter detetado "qualquer anomalia que tenha impactado o fornecimento de serviço", não tendo, por isso, registado "qualquer reclamação, além de casos pontuais de avarias comuns causadas, por exemplo, por situações atmosféricas adversas". Ainda assim, está "a proceder a novas ampliações e a um reforço de rede em todo o território".
Limites e problemas
A partir da meia-noite de amanhã entra em vigor o decreto do Governo que permite aos operadores "limitar ou bloquear o acesso de serviços não essenciais à banda larga de Internet", nomeadamente os videojogos e as plataformas digitais, como a Netflix ou YouTube, em caso de necessidade de proteger os serviços críticos do Estado. Trata-se de uma medida que já estava prevista no diploma que regula o novo estado de emergência, em 14 de janeiro, e que é semelhante à aplicada em março de 2020.
Neste segundo confinamento, os problemas na ligação à rede, da qual hoje dependemos para quase tudo, multiplicam-se pelo país, mesmo nos meios urbanos, e agudizam-se no interior, onde, em muitas zonas, a cobertura do sinal é fraca.
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Como acontece em Vimioso, onde, tal como o JN contava ontem, uma aluna de 12 anos é obrigada a deslocar-se, na carrinha do pai, várias vezes ao dia, ao ponto mais alto da aldeia de Serapicos para assistir às aulas online. Ou como sucede em Bustelo, aldeia de Águeda, onde o problema há muito se arrasta. "Há dez anos que a operadora diz que o acesso à fibra ótica está para breve", denuncia Daniel Fernandes, que ali reside e que, há dias, após testar a velocidade da ligação da Internet, concluiu que "é muito inferior à prevista no contrato". O que faz com que seja necessário esperar "três ou quatro minutos" para se assistir, na íntegra, a um vídeo de dois minutos do YouTube.
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* com Erika Nunes