A noite eleitoral promete ser quente, sobretudo, em meia dúzia de municípios. José Manuel Silva aproxima-se de Manuel Machado em Coimbra e Rui Rio acredita na reviravolta de Moedas em Lisboa. Em Matosinhos, pode a Petrogal colocar Luísa Salgueiro num lugar perigoso? Socialista Inês de Medeiros, em Almada, treme frente à CDU.
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Coimbra - Megacoligação para derrubar Manuel Machado
Uma coligação de sete partidos, encabeçada pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos José Manuel Silva tenta conquistar a Câmara Municipal de Coimbra, há oito anos na posse do PS e presidida por Manuel Machado. PSD, CDS, Nós Cidadãos, VOLT, RIR, PPM e Aliança juntaram-se, apoiando um candidato que, em 2017, encabeçou um movimento independente que elegeu dois vereadores.
Do lado do PS, Manuel Machado é candidato à Câmara pela sétima vez, tendo vencido em 1989, 1993 e 1997. Perdeu em 2001 para Carlos Encarnação e regressou em 2013, sendo reeleito em 2017. A urgência de fixar pessoas num concelho que tem vindo a perder população, a construção de uma nova maternidade (já prometida pelo primeiro-ministro, António Costa) e a necessidade de tornar a zona ribeirinha mais atrativa têm sido os temas em discussão ao longo da campanha eleitoral. Francisco Queirós (CDU) volta a merecer a confiança da coligação, pela quarta vez, e Jorge Gouveia Monteiro (Cidadãos por Coimbra) também volta a ser candidato, depois de 1997, 2001 e 2005 (pela CDU) e em 2017, já pelo movimento apoiado pelo Bloco de Esquerda. Filipe Reis (PAN), Miguel Marques (Chega), Tiago Meireles Ribeiro (Iniciativa Liberal) e Inês Tafula (PDR-MPT) também são candidatos.
lisboa - Medina à frente de Moedas nas sondagens
Fernando Medina e mais onze candidatos defrontam-se, depois de amanhã, numa noite eleitoral que se antevê sem surpresas. As sondagens apontam para a vitória do atual presidente, Fernando Medina (PS), que se candidata pela primeira vez em coligação com o Livre. O socialista é o candidato preferido dos lisboetas, com uma intenção de voto de 51%, quase o dobro do social-democrata Carlos Moedas (27%), que se candidata pela coligação Novos Tempos (PSD/CD-PP/MPT/PPM/Aliança), segundo a sondagem da Aximage para o JN de agosto passado. O mais recente escândalo em que se viu envolvida a Autarquia liderada pelo socialista - a passagem de dados pessoais de manifestantes à embaixada russa -, não parece ter beliscado o seu mandato, levando uma vantagem confortável sobre o ex-comissário da Investigação, Ciência e Inovação. Mesmo assim, o presidente do PSD acredita na vitória de Carlos Moedas.
Na corrida eleitoral estão ainda João Ferreira (CDU), Beatriz Gomes Dias (BE), Nuno Graciano (Chega), Sofia Afonso Ferreira (Nós Cidadãos!), Tiago Matos Gomes (Volt), Bruno Horta Soares (Iniciativa Liberal), Manuela Gonzaga (PAN), João Patrocínio (Ergue-te), Bruno Fialho (PDR) e Ossanda Liber (Somos Todos Lisboa), a única candidata independente à Autarquia.
João Ferreira (9%) surgia em terceiro, seguido de Beatriz Gomes Dias (4%), Nuno Graciano (2%) e Bruno Horta Leal (2%), na mesma sondagem.
matosinhos - Os estilhaços políticos da Petrogal
Num município onde reina quase sem partilha desde as primeiras autárquicas, realizadas em 1976, o Partido Socialista dispensava muito bem, por todos os motivos e mais alguns, a controvérsia instalada com o encerramento da Petrogal e estalada a menos de um ano das eleições autárquicas. A decisão é da Galp e a justificação é da tão badalada transição energética, mas nem por isso deixa de provocar estilhaços políticos ao Governo (através da Parpública, o Estado detém 7% do capital da petrolífera) e, sobretudo, à Câmara Municipal, que, embora não achada para o caso, tem de lidar com a proximidade do problema e com as consequências imediatas, económicas e sociais.
O próprio primeiro-ministro, António Costa, viu-se na obrigação de se deslocar a Matosinhos, em sinal de solidariedade "rosa", mas com uma intervenção que a Oposição considerou politicamente desastrada. Perdem-se 400 postos de trabalho diretos, outros 1500 de forma indireta e geram-se prejuízos que um estudo da Universidade do Porto calcula em 5% do PIB municipal (220 milhões de euros). A fatura pode atingir 650 milhões do PIB regional. O impacto é de tal forma pesado que não pôde deixar de dominar a campanha para as autárquicas nas margens do Leça. Luísa Salgueiro, recandidata do PS, apanha em cheio com a controvérsia, mas releva que "os matosinhenses sabem muito bem o que está em causa". E acrescenta: "Sinto uma grande adesão dos matosinhenses aos nossos projetos".
A avaliação será feita no escrutínio de depois de amanhã. Sem sondagens à mão, os resultados de 2017 são ainda a melhor balança eleitoral: terceira há quatro anos, com 15,17% do eleitorado (12 133 votos e dois entre 11 vereadores), a candidatura do independente António Parada, "António Parada, Sim!", é sentida, no pulsar da rua e das tertúlias, como líder de uma Oposição muito atomizada. Precisamente por isso, uma das incógnitas reside em avaliar a dispersão dos 12 926 (16,16%) obtidos em 2017 pela candidatura independente de Narciso Miranda, que agora está fora da corrida. Entre nove concorrentes, na linha de partida, comparecem o PSD, com o advogado Bruno Pereira, em busca de um certo resgate, e a CDU, com José Pedro Rodrigues, eleito vereador em 2017 e encarregado dos pelouros dos Transporte, Mobilidade e Proteção Civil, no equilíbrio que permitiu a gestão municipal.
Gaia - Eduardo Vítor: a evolução na continuidade
No concelho mais populoso do Norte de Portugal, com 304 mil habitantes - só Lisboa (544 mil) e Sintra (385 mil) têm mais gente -, não são precisas sondagens, porque, simplesmente, não se está a ver outra evolução que não seja a continuidade e reeleição de Eduardo Vítor Rodrigues para um terceiro mandado à frente da Câmara de Vila Nova de Gaia. Já reeleito, em 2017, com uma vitória esmagadora, de 61,7% (85 118 votos), e com um amplo domínio na vereação (nove em 11 vereadores), a que juntou a maioria na Assembleia Municipal e o controlo de todas as juntas de freguesia do município, Eduardo Vítor Rodrigues assemelha-se a uma força indestrutível, por méritos próprios e também pelos desatinos dos rivais mais próximos, designadamente os do PSD, que se envolveram numa rábula de autoflagelo político, cheia de peripécias.
No centro desta polémica esteve um dos dois vereadores do PSD, José Cancela Moura, líder da Concelhia "laranja" e deputado na Assembleia da República, que será um dos responsáveis pela desistência de António Oliveira como cabeça de lista do partido. O ex-futebolista e ex-selecionador nacional disse que desistiu "por uma questão de higiene" e por recusar pôr os "interesses de uns personagens" à frente dos interesses da população. O deputado contrapôs que Oliveira foi "um erro de casting" e registou a desistência "com algum alívio".
Maia - Silva Tiago e fratura "rosa" em escrutínio
António Silva Tiago, candidato pela coligação PSD/CDS, obteve, em 2017, uma votação menor do que a de 2013, mas manteve a presidência da Câmara Municipal da Maia, apesar de ter perdido um vereador e de ter ficado apenas com seis, correspondentes a 25 774 votos (39,95%). O rival mais próximo do candidato "laranja" volta a ser Francisco Vieira de Carvalho, que perdeu as últimas eleições por 2140 votos expressos.
A margem é pequena e alimenta todas as esperanças "rosas", ainda que a própria candidatura tenha surgido de uma fratura interna de consequências imprevisíveis para o PS. A primeira escolha, a da Concelhia socialista da Maia, recaía em Teresa Almadanim. A meio do processo, já em maio último, e por ordem da direção nacional do PS, a lisboeta de 50 anos, professora universitária, radicada no concelho, foi preterida, não sem controvérsia, ao filho do antigo autarca José Vieira de Carvalho.
Além do sufrágio desta escolha socialista, as eleições de depois de amanhã serão também o escrutínio do desagaste político causado pelos processos judiciais que envolveram o presidente da Câmara, designadamente o chamado "caso Tecmaia", de qual Silva Tiago saiu absolvido pelo Supremo Tribunal Administrativo, que anulou as decisões de perda de mandato dos tribunais administrativos do Porto e Central do Norte. Da Direita à Esquerda, concorrem mais seis candidaturas, nenhuma independente e todas de filiação partidária, entre as quais a da CDU, que ambiciona, através da lista encabeçada pelo jornalista Alfredo Maia, recuperar o vereador perdido nas eleições autárquicas de 2017.
Almada - CDU no encalce de bastião perdido em 2017
A corrida às autárquicas em Almada promete emoções fortes para a noite eleitoral. Já tinha sido uma das grandes surpresas das autárquicas de 2017, com Inês de Medeiros, pelo PS, a destronar, por 500 votos, a histórica CDU, que liderava a Autarquia desde os anos 70.
Maria das Dores Meira é a candidata comunista e surge habituada a ganhar eleições com maiorias absolutas na Câmara de Setúbal, que liderou durante três mandatos e onde ganhou o carinho da população. Foi em Setúbal que a CDU teve uma das suas maiores votações, mais de 50%.
A terceira força política no concelho, o PSD, que elegeu dois vereadores em 2017, volta a apresentar Nuno Matias como cabeça de lista numa coligação com CDS, Aliança, MPT e PPM. A deputada Joana Mortágua, pelo Bloco de Esquerda, quer melhorar o resultado das últimas autárquicas, em que foi eleita vereadora.
Este ano, a principal tónica da campanha esteve no fim de bairros de lata como o 2.º Torrão, na Trafaria, ou o das Terras da Costa, na Costa da Caparica, onde centenas de famílias vivem sob condições indignas. Vítor Pinto, do PAN, Bruno Coimbra, da Iniciativa Liberal, e Manuel Matias, do Chega, fecham a lista de candidaturas.