Cansaço eleitoral pode resultar numa maior abstenção nas legislativas e aumentar o populismo, alertam politólogos. Já o calendário apertado será desafiante para os partidos
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O ano promete ser particularmente desafiante para o sistema eleitoral: com o chumbo (quase certo) da moção de confiança do Governo na próxima semana tudo indica que o país tem eleições legislativas antecipadas à vista, o que significa que se avizinham quatro atos eleitorais nos próximos nove meses, embora o mais próximo seja regional, na Madeira. Os politólogos ouvidos pelo JN, alertam que, apesar de as idas quase sucessivas às urnas refletirem o normal funcionamento da democrática, podem aumentar a abstenção e fazer crescer o populismo.
“Quantas mais eleições tivermos num ano, mais cansamos o eleitorado e mais difícil é mobilizá-lo”, explica o politólogo Miguel Ângelo Rodrigues, sublinhando que o fenómeno poderá ser mais visível nas legislativas dado o histórico recente. E “tende a prejudicar mais alguns partidos do que outros”, que podem perder lugares no Parlamento. O também professor na Universidade do Minho aponta que novas eleições podem favorecer o voto mais radical, à boleia do atual contexto internacional e da natureza desta crise política.
“É uma crise assente numa ideia de que o primeiro-ministro não estava a exercer as suas funções em exclusividade, pelas ligações que tinha ao setor privado. E isso favorece o discurso do Chega, de que estão todos a roubar e nós é que somos impolutos e conseguimos normalizar ou moralizar o sistema político”.