Trás-os-Montes Produtores preveem quebras significativas nas colheitas e receiam perdas de árvores.
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António Pavão, olivicultor em Suçães, em Mirandela, e Paulo Hermenegildo, produtor de castanhas em Rabal, Bragança, são o rosto do desalento. A previsão de quebras significativas nas colheitas levam-nos a recear que o cenário possa continuar no futuro. Pavão, que em 2021 produziu 30 mil litros de azeite, fala em metade este ano. Hermenegildo, que produziu três toneladas de castanhas em igual período, diz que a chuva viria salvar os ouriços que estão subdesenvolvidos.
Mirandela
"Este ano é para esquecer"
Quebras de mais de 50% na produção de azeite é quanto esperam os olivicultores do Nordeste transmontano, devido à seca. Esta avaliação é feita a três meses da campanha iniciar, mas as previsões meteorológicas apontam que os meses de setembro e outubro não terão pluviosidade, o que pode agravar ainda mais a falta de rentabilidade da azeitona, que não tem teor de gordura.
Na Casa de Santo Amaro, em Suçães, no concelho de Mirandela, as perspetivas para a campanha de azeite deste ano não são risonhas. Em 2021 produziram 30 mil litros de azeite, mas tudo indica que, este ano, haverá 50 % de quebra na produção. O cenário é de seca: oliveiras sem azeitona tanto no olival velho como no novo, e as árvores que têm fruto o calibre é baixo.
"É um prejuízo elevado", adiantou António Pavão, um dos proprietários, admitindo que há parcelas de olival onde não vai fazer a apanha da azeitona. "Não compensa o trabalho. Não é viável estar a deslocar as máquinas. No ano passado, colhemos nesta parcela de quatro hectares três mil quilos de azeitona, mas este ano não devemos ter 1300. É um ano para esquecer", acrescentou.
Noutro olival mais recente, onde no ano passado colheram 20 toneladas de azeitona, este ano serão dez. "Temos tentado salvar alguma coisa regando e transportado a água em cisternas, mas fica muito caro. Cada cisterna traz cinco mil litros de água. Se em cada oliveira depositarmos 50 litros dá para regar 100 plantas", calcula.
Se a chuva viesse já não evitava os danos na produção, "mas salvava as árvores", ainda que, segundo António Pavão, a produção do próximo ano também já esteja comprometida. A casa agrícola exporta cerca de 90% da produção para 19 países e já ganhou 170 distinções nacionais e internacionais.
Bragança
"À espera que S. Pedro ajude"
Os produtores de castanha bem rezam a S. Pedro a ver se o santo decide mandar chuva, porque, nesta altura, a água ainda vinha a tempo de ajudar os ouriços a crescer. "Se não chover até 15 de setembro, está tudo perdido", garante Paulo Hermenegildo, produtor em Rabal, Bragança, dando conta que os soutos, tanto no Nordeste transmontano como na zona de Penela, estão "sequinhos". Em 2021, colheu três toneladas de fruto.
Na realidade, os castanheiros até têm uma grande quantidade de ouriços, só que o calibre é pequeno para a época. "Já deviam estar maiores. As castanhas também são miúdas ou nem vingaram", confirmou Lindolfo Afonso, outro agricultor, que, no ano passado, produziu cerca de 70 toneladas de castanha em Bragança e que já está à espera de uma má produção "em quantidade e qualidade".
Em Rabal, no Parque Natural de Montesinho, a seca é tanta que até o rio Sabor praticamente não tem água. "Precisamos de chuva ou o ouriço não cresce. O castanheiro não tem uma raiz muito profunda e carece de água, logo é o caos na produção. É um ano em vão, porque o gasóleo agrícola subiu, a mão de obra também está cara", explicou Paulo Hermenegildo, que diz que esta era a altura certa para chover. "Falta a ajuda de S. Pedro ou a castanha nem se cria", lamenta Paulo Hermenegildo, dando conta que "as nascentes e os canais freáticos ou estão secos ou muito fracos".
Para acautelar o futuro será preciso mudar o paradigma e começar a apostar no regadio. "A castanha tem um impacto enorme na economia da Terra Fria, por isso o Governo tem de simplificar o processo de candidaturas aos agricultores", vincou.