Não há memória de uma seca tão severa nos últimos 90 anos e com impacto negativo tão alto na agricultura transmontana. Amêndoa, azeitona, castanha e mel terão, este ano, das piores rentabilidades dos últimos anos. Os agricultores fazem contas à vida e já perspetivam um inverno de bolsos vazios.
Corpo do artigo
O clima é o principal culpado pelos danos. Não chove há meses e as temperaturas altas disparam, os rios estão a secar, as perdas são transversais a todas as culturas e a todo o território nacional, mas é no Interior Norte onde as consequências se sentem mais. "Há uns anos a seca era uma preocupação do Sul do país, hoje é de todo o território. Em Trás-os-Montes é uma realidade", disse o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, destacando "o número de dias com temperaturas muito elevadas" dos últimos meses.
Morte de árvores
Este verão já teve duas vagas de calor, e, segundo o responsável da CAP, as previsões do Instituto Português do Mar e as Atmosfera (IPMA) apontam para uma nova onda de temperaturas muito elevadas. "Para plantas e animais tem impactos brutais", refere o responsável da CAP, destacando que alguns dos malefícios "se veem nas árvores, que não têm frutos para dar e, as que têm, vão sofrer de stresse hídrico", situação que levará a que, "se não morrerem agora, morrem daqui a sete ou oito meses", frisou.
Segundo dados do Eurostat, em 2021 Portugal teve a maior produção de azeite de sempre, com cerca de 180 mil toneladas (2,29 milhões de hectolitros), e exportações superiores a 600 milhões de euros.
Já no setor do amendoal as quebras em Trás-os-Montes ultrapassam os 50%. Bruno Cordeiro, presidente da Cooperativa Agrícola de Produtores de Amêndoa de Trás-os-Montes e Alto Douro, alerta que o problema vai passar para os anos seguintes. "As árvores estão a morrer devido à falta de água. Há quem já tenha iniciado a apanha para aliviar as amendoeiras", contou.
Mesmo que chova nas próximas semanas, a campanha de 2022 está perdida. "A amêndoa é pouca, não tem grande qualidade, tem calibre pequeno e com o grão enrugado. O rendimento cairá", afirmou. No país a produção é em média de mais de 29 mil toneladas de amêndoa. Aquela cooperativa recolheu dois milhões de quilos de amêndoa no ano passado, mas neste não deve chegar aos mil.
Portugal produz cerca de 50 mil toneladas de castanha, o valor da fileira anda perto de 110 milhões de euros, 43,8 milhões dos quais no mercado informal. Bragança e Vinhais têm um terço da produção nacional e estima-se que a colheita caia para mais de metade.
Na apicultura os danos são enormes, mais uma vez devido ao calor e à ausência de chuva. A Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP) aponta para uma baixa de mais de 80% na produção de mel no Norte (a média nacional ronda os 50%). Manuel Gonçalves, presidente da FNAP, diz que é difícil quantificar os prejuízos, mas serão de milhões de euros.
Seca extrema
O IPMA diz que se mantém a situação de seca meteorológica em todo o território, verificando-se, em relação ao final de junho, um aumento da área em seca extrema (passou de 28,4 para 44,8%), em particular na Região Sul, no vale do Tejo e nalguns locais do Interior Norte e Centro.
Sol e calor
As previsões do IPMA para os próximos 10 dias apontam para Bragança sol e temperaturas entre os 16 e os 36º graus.