Rui Moreira pede "mais critério" no uso dos milhões que vão chegar da Europa e lança Freire de Sousa para um novo mandato na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte. Elisa Ferreira lembra que um plano de recuperação "histórico" exige soluções que "não repitam receitas do passado".
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"Pedimos uma bazuca, aqui está ela". A frase é de Elisa Ferreira, comissária europeia para a Coesão e Reformas, já no final da conferência "Os caminhos da recuperação económica em Portugal: hipóteses a Norte", promovida pelo JN e pela Câmara do Porto. Milhares de milhões de euros que não podem cair nas mãos "dos suspeitos do costume", alertou Rui Moreira, minutos antes de lançar a candidatura de Fernando Freire de Sousa a um novo mandato à frente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN).
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Foi uma discussão com propositado "sotaque" nortenho a que juntou quase duas dezenas de autarcas e dirigentes no Rivoli, ao longo do dia de ontem. "O Norte quer ser ouvido", sintetizou o autarca do Porto, "não pela divergência, mas pela diferença". Porque os "remédios" que aí vêm "têm de estar adaptados à diversidade" do país e até da região. O tempo escasseia - Elisa Ferreira lembrou que a Comissão Europeia espera receber as primeiras propostas no final do verão -, mas "não nos podemos encantar pelos milhões que aí vêm", advertiu o autarca portuense, pedindo "mais critério" nos investimentos. "A cada custo, tem de responder um benefício", ao contrário do que sucedeu no passado e em sucessivas vagas de subsídios europeus.
É preciso "fazer mais e melhor" e ainda por cima num quadro em que "faltam instrumentos" essenciais à região. Sintetizando o que já se ouvira ao economista Guilherme Costa, o presidente da Câmara do Porto lembrou que já não existe proximidade ao sistema financeiro (o que havia "emigrou" há muito para Lisboa), como nunca houve ao poder institucional do Estado. E foi nesse quadro o alerta para o perigo de o dinheiro que vem da Europa ser "investido nos suspeitos do costume". Se assim for, "vamos ter mais novelas como a do Novo Banco".
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Usando palavras mais diplomáticas, Elisa Ferreira disse afinal o mesmo: sugere que não se perca tempo a fazer diagnósticos já conhecidos e que se use "um pacote de apoios tão brutal como foi a crise" para promover "uma transformação qualitativa que nunca conseguimos" antes, seja na região Norte, seja no país.
Resumindo, um relançamento económico "virado para o futuro, sem repetir as receitas do passado", aproveitando um plano de recuperação "histórico": pela dimensão financeira (quase duplica o valor do orçamento plurianual comunitário), pela forma (a União Europeia vai contrair dívida para o financiar) e pelo modo de reembolso (a longo prazo e com a criação de receitas próprias, com novas taxas que incidirão no conjunto dos países).
Talvez alicerçado na urgência, por um lado, e no conhecimento adquirido, por outro, Rui Moreira não deixou passar o facto de o Governo estar a preparar a eleição indireta de um novo presidente da CCDRN em outubro, por um colégio alargado de autarcas. O autarca deixou claro que discorda do modelo, mas também que "em equipa que ganha não se mexe", assim lançando o nome de Freire de Sousa para o mesmo cargo, e se possível "com poderes reforçados".
O futuro próximo dirá se PS (que nomeou Freire de Sousa em 2017) ou PSD apresentam alternativa. No que diz respeito ao independente que lidera a Câmara do Porto, "se tem de haver um colégio eleitoral, então votemos nele".