Júri de Todd Haynes terá de decidir qual o Urso de Ouro deste ano.
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Atendendo ao que se viu nos últimos dez dias em Berlim, o júri da edição 75 da Berlinale não deve ter tido vida fácil na atribuição dos seus prémios principais, entre os quais o Urso de Ouro, um dos mais importantes do mundo do cinema, a par da Palma de Ouro de Cannes e do Leão de Ouro de Veneza. O Óscar, esse continua a ser de outro campeonato.
Mas essa eventual dificuldade na decisão não se deveu seguramente à qualidade geral dos filmes em competição, bastante pobre este ano, quando se esperava uma lufada de ar fresco com a nova direção, presidida por Tricia Tuttle. É claro que, como em tantas outras áreas da cultura e da vida em geral, gostos não se discutem, mas esta sensação de pobreza cinematográfica foi também partilhada com muitos colegas de todo o mundo com quem se vai trocando impressões no final de cada projeção.
Será que a ficção está em crise? Não será seguramente coincidência que os dois últimos prémios maiores de Berlim foram entregues a documentários, “Sur l’Adamant”, de Nicolas Philibert em 2023 e “Dahomey”, de Mati Diop, o ano passado.
O júri presidido pelo realizador norte-americano Todd Haynes não deverá conhecer o ditado português do “não há dois sem três”, mas dada a sua qualidade bem acima da média geral da competição e a forma como aborda a situação atual da Ucrância, através da observação do quotidiano de escolas primárias e secundárias poderá valer mais logo a “Timestamp”, documentário da ucraniana Kateryna Gornostai, o prémio maior da Berlinale.
Numa apreciação muito subjetiva, há um grupo de filmes, que se distinguiu claramente dos outros, que deverão estar representados no palmarés. Hong Sangsoo, já com inúmeros prémios em Berlim, mas sem nunca ganhar o Urso de Ouro, poderá ver-se desta vez recompensado pelo lúdico “What Does that Nature Says to You”. Apesar de no geral pouco apreciado, o nosso pensamento vai também para “Blue Moon”, de Richard Linklater, que encena algumas horas na vida do compositor norte-americano Lorenzo Hart.
Não se ficaria desagradado ainda se o Urso de Ouro fosse para o brasileiro “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, “Dreams”, de Michel Franco ou “Kontinental ‘25”, de Radu Jude, que tem contra ele já ter vencido o prémio maior em 2021 com “Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental”. Há ainda a possibilidade da Alemanha ter o seu primeiro grande vencedor de Berlim, desde que Fatih Akin o conquistou em 2004 com “Head On”, visto que “What Marielle Knows”, de Frédéric Hambalek foi dos raros a reunir algum consenso.
Na nova seção competitiva Perspectives, dedicada a primeiros filmes, “Duas Vezes João Liberada”, de Paula Tomás Marques, é um dos 14 candidatos ao grande prémio e, pela sua radicalidade, poderá ter as suas hipóteses, já que se distingue dos restantes títulos. Seria uma boa prenda da Berlinale para o cinema português, pouco representado este ano, e pera uma equipa que produziu o filme de forma completamente independente. Para saber mais logo, em Berlim.