Os abusos sexuais marcaram as cerimónias de Quinta-Feira Santa presididas por diversos bispos portugueses. Em Fátima, D. José Ornelas, defendeu que é preciso prosseguir o "caminho iniciado" há mais de um ano e lembrou que, "juntamente com o mais claro e decidido repúdio e responsabilização de atitudes que nos envergonham e contradizem o nosso ser", é preciso ter "a coerente atitude de justiça, de apoio e da reparação possível de quem foi vítima daquilo que nunca deveria ter acontecido, especialmente no interior da Igreja".
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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa recordou que os tempos não têm sido fáceis, mas "não tememos a verdade que permite identificar e tratar com determinação o que foi condenável, e endireitar o que não está direito". Numa cerimónia que contou com a presença de dezenas de sacerdotes, D. José Ornelas referiu ainda que não se pode "nunca confundir a floresta com a árvore nem deixar-se levar por frequentes generalizações mediáticas e injustas e sem consistência".
Em Lisboa, o cardeal-patriarca voltou hoje a pedir perdão "institucional e convicto" às vítimas de abuso sexual na Igreja, naquela que, admitiu, terá sido a última Missa Crismal a que presidiu enquanto titular do Patriarcado. D. Manuel Clemente faz 75 anos em julho e vai apresentar a resignação ao Papa Francisco. Na homília, deixou uma palavra "de gratidão aos padres e de ação de graças a Deus", pelo presbitério que integrou "como padre, bispo auxiliar e desde 2013 como patriarca".
O bispo de Lisboa sublinhou as "duas referências maiores que, quer pela delicadeza do assunto quer pela dimensão da tarefa, se tornam marcantes" para a Igreja.
"A primeira refere-se ao que temos feito e devemos fazer para superar a crise dos abusos de menores e pessoas vulneráveis, apoiando as vítimas e prevenindo o futuro. Às vítimas, dirijo de novo o pedido de perdão institucional e convicto, bem como a disposição de apoiar quem necessite", disse o patriarca, acrescentando a "disposição firme de fazer das comunidades lugares saudáveis e seguros, servidos por agentes pastorais, ordenados ou leigos, à altura de uma missão que o tempo torna particularmente sensível e exigente".
Numa alocução voltada, essencialmente para os padres do Patriarcado, D. Manuel Clemente reconheceu que "as falhas, reais ou supostas, de algum são mais mediatizadas do que a caridade pastoral do magnífico conjunto".
Em Viseu, na mensagem pascal, o bispo também pediu "tolerância zero" para "todos os tipos de abusos sexuais e de violência", considerando-os "crimes horrendos, abomináveis e hediondos" que não deixam brilhar na Igreja, nem no mundo, "a luz" de Cristo ressuscitado.
D. António Luciano dos Santos Costa referiu que "Cristo ressuscitado oferece à humanidade a vida nova" que dá sentido à fé e à esperança e é "capaz de destruir todos os males e erros do mundo pela raiz".
Dirigindo-se a Cristo, o bispo de Viseu pediu que fortaleça e cure "todas as vítimas dos abusos sexuais de crianças na Igreja em Portugal".
"Ajudemos as vítimas a encontrar em Cristo ressuscitado a Páscoa e a libertação de que tanto precisam. Cuidemos de todos acolhendo-os, ajudando-os no seu processo de cura e de busca de sentido para a sua própria vida. Cuidemos também dos abusadores, ajudando-os a remir tão grandes males", referiu.