A necessidade de reconciliação entre a Igreja e a sociedade e a esperança marcaram as intervenções católicas no Domingo de Páscoa. Durante a Semana Santa, os bispos falaram dos abusos sexuais e pediram, mais uma vez, perdão às vítimas.
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Este domingo, na Madeira, o Cardeal Tolentino Mendonça afirmou que "há uma reconciliação a acontecer com a ajuda de todos porque a Igreja não a conseguirá fazer sozinha". O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação na Cúria Romana assumiu que os abusos sexuais a menores são uma tragédia, "um problema gravíssimo" e devastador e que, hoje, "há uma maior consciência deste problema". "Todos temos que ser colaboradores dessa reconciliação", disse ainda Tolentino Mendonça na Igreja Matriz de Machico.
No Porto, Manuel Linda referiu que, no contato que tem com "o povo simples", "a reconciliação já está feita". "Porque se fala em crise na Igreja?", questiona o bispo do Porto. E responde: "Pode ser porque pensamos num horizonte temporal muito curto", referiu na Sé do Porto perante um templo cheio de católicos e também de muitos turistas. "Tenho contactado com o povo simples e o povo nunca saiu da Igreja", frisou o bispo recusando a possibilidade de que os abusos sexuais tenham afastado as pessoas da prática religiosa.
Quase a completar 75 anos e a pedir a resignação ao Papa, Manuel Clemente assumiu as cerimónias da Semana Santa como as últimas a que presidiu enquanto Patriarca de Lisboa.
No Domingo de Páscoa, o cardeal fez uma homilia centrada nos valores da fé e esperança cristã, reservando palavras de esperança para os jovens, afirmando que só a fé explica "como neste preciso momento, em situações dificílimas, em tantos lugares da Terra, haja cristãos que não desistem de afirmar a vida e alimentar a esperança".
Já fora da igreja, em conversa com os jornalistas, Manuel Clemente admitiu que a questão dos abusos sexuais em crianças na Igreja Católica foi o momento mais difícil do seu patriarcado, garantindo tudo estar a ser feito para que não se repitam. "Na Igreja e na sociedade portuguesa este tipo de acontecimentos tão trágicos e tão negativos é para nós uma preocupação. Mas temos que resolver a preocupação, apoiando quem sofreu e resolvendo as coisas de maneira a que não se repitam", defendeu.
Em Braga, o arcebispo falou nos "crucificados de hoje, nomeadamente nas pessoas: doentes, reclusas, vítimas de todo o tipo de violência, migrantes, com deficiência, e naquelas que andam à procura do sentido da vida e outras que desistiram de procurar". José Cordeiro falou do Evangelho e no significado da Páscoa numa cidade onde as cerimónias da Semana Santa atraem milhares de católicos de todo o mundo.
"Santidade, amor, juventude", foram as palavras escolhidas por Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, para o dia de Páscoa. A diocese recebeu os símbolos da Jornada Mundial da Juventude e, dirigindo-se especialmente aos jovens, o responsável pela diocese referiu que "a Igreja há de ser mais santa com todos nós".
Papa pediu paz para a Ucrânia
O Papa Francisco pediu ontem à comunidade internacional que promova soluções de paz para a Ucrânia e para mais de uma dezena de conflitos que afetam o mundo. Na bênção "Urbi et Orbi" no dia da festa mais importante para a Igreja Católica, na mensagem de Páscoa, Francisco não se cansou de falar de paz. Referindo-se ao "amado povo ucraniano", o Papa pediu a Deus que "derrame a luz pascal sobre o povo russo", possibilitando que" os prisioneiros possam voltar sãos e salvos para as suas famílias", referiu Francisco, na varanda central da Basílica de São Pedro. "Abre os corações de toda a Comunidade Internacional para que se esforcem por fazer cessar esta guerra", acrescentou, numa intervenção em forma de oração.
A mensagem papal lembrou ainda a Terra Santa, em particular a cidade de Jerusalém, lamentando os ataques dos últimos dias, que ameaçam o "desejado clima de confiança e mútuo respeito, necessário para que o diálogo entre israelitas e palestinos seja retomado, a fim de que a paz reine na Cidade Santa e em toda a região".
O Papa Francisco evocou as comunidades cristãs que celebram este dia "em circunstâncias particulares, como sucede na Nicarágua e na Eritreia", devido à situação política nestes países, rezando por quem "é impedido professar, livre e publicamente, a sua fé".