Redução de funcionários já começou e estruturas vão fechar ou agrupar-se para menor despesa com rendas. Cabe à Mesa Nacional definir o valor da contribuição anual.
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Os cortes no Bloco de Esquerda devido à redução em cerca de 50% da subvenção pública, face à hecatombe na bancada, e a criação de mecanismos de autofinanciamento são temas quentes da IV Conferência Nacional que debate este sábado, em Lisboa, o rumo estratégico. Está em curso a redução de funcionários e há um plano para fechar e agrupar sedes. O passo seguinte será o aumento das quotas (o mínimo é hoje de 15 euros por ano), que o núcleo duro do BE remete para a Mesa Nacional, mas ainda sem calendário para esta questão.
"O resultado eleitoral impõe uma redução significativa da subvenção pública. Uma estrutura menor exigirá mais agilidade e mais responsabilização militante", lê-se na proposta global da Comissão Política. Por isso, "o BE deve reforçar-se com novos mecanismos de autofinanciamento e campanhas para novas adesões".
As medidas servirão para preparar o próximo ciclo eleitoral, com o BE a "afirmar a alternativa na oposição à maioria absoluta do PS" e "choques frontais com a direita radicalizada".
Equipas foram reduzidas
Questionado pelo JN sobre os funcionários, o dirigente Jorge Costa disse que foram feitos cortes em várias equipas. Irão manter-se, mas com menos pessoal. Deu como exemplos as redes sociais, a área jurídica e o portal. Outra medida passa pela "seleção de algumas sedes que terão de fechar para reduzir encargos fixos com rendas". Irão, igualmente, poupar na propaganda.
Preveem-se encerramentos a nível local e agrupamento de distritais. Porto, Lisboa e Setúbal (com deputados) deverão ser exceções.
Jorge Costa adiantou o aumento da quota que nota ser apenas de 15 euros, mas lembrou que a definição do valor cabe à Mesa Nacional. Esta contribuição anual é regulada pelos estatutos ratificados em Convenção. De resto, o BE quer também aumentar as adesões, reforçar a recolha de fundos e deverá apostar no voluntariado.
Já a plataforma "Convergência", crítica da liderança de Catarina Martins, tem uma proposta global alternativa para polarizar o BE como alternativa de Esquerda. Instado sobre a restruturação, Bruno Candeias disse ao JN que falta apresentar o relatório final, a que terá acesso na reunião da Mesa Nacional. Nas mudanças "inevitáveis", o membro da Comissão Política Nacional exige "diálogo profundo entre a direção e as estruturas de base para mitigar o fecho das sedes" e "respeito pela vida" dos funcionários, consciente de que "alguns não poderão permanecer".
A seu ver, importa destacar "que o rumo estratégico não pode ser alterado na Conferência, mas apenas na Convenção" prevista para 2023, onde a participação "é proporcional", insistindo no apelo para que seja antecipada para este ano. Mas o encontro de sábado servirá para "iniciar esse caminho". Recorde-se que a proposta entregue à Comissão Política para antecipar a Convenção foi rejeitada, com apenas um voto a favor (a "Convergência" tem três eleitos mas divide-se nesta matéria).
Bruno Candeias defende um BE que se afaste do PS e se "liberte desse colete de forças" para "polarizar" o partido.
"Linha desajustada"
Para Pedro Soares, membro da "Convergência" que subscreve a mesma proposta global alternativa a discutir sábado, tal como outros três ex-deputados, a Conferência "poderá demonstrar ou não se o Secretariado está disponível para que o diálogo interno seja retomado, como é a matriz do BE, ou se insistirá na ideia de que nunca se arrepende e nunca se engana". Já "a realidade mostra à evidência que a linha política esteve desajustada e levou o BE a um ciclo de perdas eleitorais que culminou com a derrota nas legislativas".
Propostas
Mais 1400 aderentes
Rondam os 10 mil. Têm subido nos últimos anos e há mais 1400 adesões este mês, face a abril de 2021.
"Alta intensidade"
A Comissão Política defende que as mudanças na organização devem "garantir uma atividade partidária e social de alta intensidade".
Ucrânia
A invasão da Ucrânia, a solidariedade com o seu povo e os efeitos da guerra na economia estão presentes nas várias propostas.
"Geringoncismo"
A proposta liderada pelos membros da "Convergência" e outra proposta global alternativa para "unir o Bloco" e "recomeçar de novo" defendem que não pode ficar preso à experiência da geringonça.