O investigador Boaventura de Sousa Santos está preocupado por não ter sido criada, ainda, pelo Centro de Estudos Sociais (CES), uma comissão independente para investigar a veracidade das acusações de assédio moral e sexual proferidas contra si. Sem essa comissão, não consegue defender-se, alertou numa carta, enviada ao CES.
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"Quero que exista um processo, interno ou externo, para que eu me possa defender. Quero que todos vós, a Justiça e a Comunicação Social, conheçam a verdade", pode ler-se na carta, enviada por Boaventura de Sousa Santos aos órgãos sociais e aos associados do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a 10 de maio, a que o JN teve acesso.
O sociólogo manifesta-se receoso das consequências que possam advir dos ataques que têm sido feitos contra o próprio e contra o CES, mostrando-se preocupado com a inexistência de uma comissão independente, para que se apure os factos e através da qual possa defender-se.
"Preocupa-me que não haja, ainda uma, comissão independente para averiguar as denúncias. Também me preocupa as consequências que podem advir desta passividade por parte do CES", refere na missiva.
Na sequência das acusações de alegadas práticas de assédio que envolvem os nomes de Boaventura Sousa Santos e de Bruno Sena Martins, o CES tinha anunciado, há mais de um mês, que constituiria uma comissão independente para apurar os factos.
Processo moroso
No entanto, segundo a carta do sociólogo e de acordo com a notícia, avançada esta quinta-feira, pelo jornal "Público", a comissão independente não foi criada. O diretor do CES, António Sousa Ribeiro, afirmou, ao Público, que "o processo está a ser mais moroso" do que previa e que a comissão "seria anunciada nos próximos dias".
António Sousa Ribeiro assegurou, também, que "o CES está a colocar o máximo empenho e zelo na constituição desta comissão, para garantir que ela funcionará de forma verdadeiramente independente e que os seus membros reunirão a disponibilidade, as competências e o perfil adequados para liderar o processo com isenção e respeito por todas as partes envolvidas". Certo é que ainda não existe comissão para analisar as denúncias de assédio.
Na carta, Boaventura Sousa Santos expressa que as denúncias têm que ser investigadas com "seriedade, rigor, isenção e rapidez, para que se possam tomar as decisões adequadas".
"Não me qualifiquem de abusador"
Boaventura de Sousa Santos voltou a negar todas as acusações de que é alvo, salientando que cresceu "numa época e numa sociedade de vincado pendor patriarcal contra a qual sempre lutou" e deixa um pedido: "Não me qualifiquem de abusador, assediador ou extrativista".
O professor catedrático reafirma que as acusações proferidas por Moira Millán, de que este a sequestrou e tentou violar, são falsas. "A imputação da senhora Moira Millán que me acusa de sequestro e tentativa de contacto de cariz sexual é, manifestamente, falsa e caluniosa". Sousa Santos revela ter jantado com Moira Millán em junho de 2010 e que, depois dessa data, não voltou a vê-la. "Não houve excessos nem tentativa premeditada de privacidade. Depois de jantar, acompanhei a senhora ao Hotel Botânico e nunca mais a vi", conta.
Na carta, são reveladas algumas partes de conversas, que, segundo o professor, terá tido através de email com a ativista, alegando que essa troca de mensagens é reveladora de uma relação amistosa entre os dois.