Boaventura de Sousa Santos exige "pedido público de desculpas" de ativista argentina
Boaventura de Sousa Santos exigiu, numa reação escrita a que o JN teve acesso, que Moira Ivana Millán faça um pedido público de desculpas. A investigadora acusa o sociólogo de assédio sexual e de a ter tentado agredir sexualmente. O diretor emérito do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra - entretanto suspenso a pedido do próprio - diz que as acusações da ativista argentina são "falsas" e "caluniosas".
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"A partir das afirmações feitas por Moira Millán na entrevista [a um jornal espanhol], detenho-me a seguir - com base em elementos concretos e documentos sólidos - a confrontar a narrativa caluniosa que ela construiu para me acusar, indicando ponto por ponto a verdade dos factos. Esta acusação foi a mais grave feita contra a minha pessoa e, por isso, responderei a ela em primeiro lugar", diz o sociólogo numa carta, onde anexa várias faturas da estadia de Moira Ivana Millán em Coimbra e de emails alegadamente trocados com a investigadora.
São vários os pormenores onde as versões de Boaventura de Sousa Santos e de Moira Ivana Millán contrastam. Enquanto a ativista argentina diz ter sido convidada pelo sociólogo para dar uma palestra em Coimbra, o diretor emérito do CES aponta que foi a própria a oferecer-se para realizar o evento.
Relativamente ao jantar que os dois terão tido sozinhos num restaurante em Coimbra, Moira Ivana Millán revela que foi surpreendida com aquele encontro a sós com o sociólogo. Já Boaventura de Sousa Santos refere que o jantar foi combinado previamente e que se tratava de um jantar de trabalho, num restaurante "muito conhecido" em Coimbra e perto das instalações do CES.
No final da refeição, o diretor emérito do CES diz que acompanhou a investigadora até ao hotel onde estava hospedada, o que contrasta com a versão de Moira Millán, que alega que foi convidada por Sousa Santos a ir ao seu apartamento buscar livros. Terá sido nesse local, segundo a ativista argentina, que foi alvo de agressão sexual. "Atirou-se para cima de mim no sofá e pôs-me as mãos em cima", conta.
A polémica no CES surgiu depois das denúncias feitas por três investigadoras num capítulo do livro "Má conduta sexual na Academia", publicado na editora académica Routledge, no final de março. As autoras acusam Boaventura de Sousa Santos e o investigador Bruno Sena Martins de comportamentos sexuais inapropriados para com as mulheres na instituição. Ambos negaram as acusações.
Mais tarde, outras duas mulheres afirmaram publicamente ter sido vítimas de assédio por Boaventura de Sousa Santos: a deputada brasileira Bella Gonçalves e a própria Moira Ivana Millán. Há ainda mais três mulheres - duas brasileiras e uma portuguesa - que acusam o sociólogo de assédio sexual e que estão a ser representadas pela advogada brasileira Daniela Felix.
Conta de email foi pirateada, diz ativista
Na reação escrita a que o JN teve acesso, Boaventura de Sousa Santos não comenta os restantes casos. "Quanto às outras alegações que têm vindo a lume, quando tiver conhecimento delas, recolherei a informação e tomarei as medidas adequadas".
Ainda sobre Moira Ivana Millán, o sociólogo diz que gostaria "de não ter que avançar por meios jurídicos para resolver" a questão. "O que seria possível se a senhora Moira Millán reconhecesse a inverdade das graves acusações que fez a meu respeito e fizesse um pedido público de desculpas".
Por seu lado, a investigadora adiantou ao jornal "Público" que teve a conta do email pirateada. Várias das mensagens de email, trocadas entre os dois e que constam na reação escrita de Sousa Santos, mostram uma alegada cumplicidade entre ambos. No entanto, em várias mensagens, Moira Millán não faz referência ao nome do sociólogo.
"A perseguição contra o povo mapuche permite aos serviços de informações entrar nas nossas contas de correio eletrónico e redes sociais, estou sempre na lista dos que são alvo de intervenção pelos serviços de informações", disse a ativista ao "Público". Moira Millán reitera as acusações contra o diretor emérito do CES e garante que vai apresentar queixa na Justiça portuguesa.