Amadora-Sintra tem sistema há seis meses e remunera seis agentes da PSP. S. João delineou plano próprio. Ministra promete estratégia para breve.
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Há seis meses em modo de teste no Hospital Fernando Fonseca, Amadora-Sintra, os "botões de pânico" já evitaram que vários episódios de violência de doentes contra profissionais de saúde descambassem em agressões. A última vez foi anteontem. Outros hospitais adotaram estratégias semelhantes para prevenir a escalada das agressões. Sobre pressão do setor e da Oposição, após os casos ocorridos na última semana em Setúbal e Moscavide, a ministra da Saúde anunciou um plano de ação até ao final do mês.
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Dois minutos foi o tempo que levou um dos seis agentes da PSP, colocados num posto do Hospital Amadora-Sintra, a travar a agressão a uma médica por parte de uma doente, que aguardou algumas horas na urgência, no segundo dia do ano. Segundo fonte hospitalar, a rapidez deveu-se "à ativação pela clínica de um dos botões de pânico que foram instalados, nos últimos seis meses, na triagem da Urgência Geral, na Pediatria e Serviço de Psiquiatria".
"Este sistema já provou ser eficaz e veio dar mais segurança e confiança aos profissionais, que atendem uma população onde há graves problemas socioeconómicos, e serve de dissuasor para os potenciais agressores", informou, salientado que os sinalizadores de pânico na Pediatria "se deveram ao facto de haver casos da retirada de crianças aos pais".
Caso espoletou plano próprio
O botão de pânico integra um lote de medidas que o Ministério da Saúde estabeleceu, a título de projeto-piloto, no verão passado. Do Amadora-Sintra, estendeu-se ao Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP) e ao de Coimbra (CHUC). Ao JN, fonte do CHUP explicou que na Urgência existe já um botão "que alarma no posto da PSP aí existente" e que há outros na unidade. Assim como no CHUC, que revelou não ter "casos de ameaças ou agressões".
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Já no Hospital de S. João, há dois anos que há um plano semelhante desenhado pela instituição. "A agressão a um funcionário na Urgência levou a que, além dos botões de pânico em todos os gabinetes da Psiquiatria, se colocasse um também ali", explicou a diretora clínica Maria João Batista.
Os mesmos mecanismos estenderam-se à triagem e Urgência Pediátrica, a par de bloqueios eletrónicos e da melhoria de condições de espera dos doentes, "para lhes diminuir o stress e a frustração". "Identificámos áreas mais críticas, com difícil gestão de conflitos e onde o profissional poderia estar mais em risco de sofrer uma agressão, e desenvolvemos a nossa estratégia", disse, frisando o "número de ativações ocasionais".
A ministra da Saúde revelou, ontem, que está a "trabalhar no sentido de ter uma estratégia para este tema até ao final do mês de janeiro". Marta Temido avançou que o plano está a ser gizado com base nos projetos "pilotos institucionais de combate à violência contra os profissionais de saúde".
Mas Marta Temido não se livrou de críticas de Rui Rio, que falou numa "situação explosiva, errada e triste" no Serviço Nacional de Saúde. O líder do PSD quer ouvir no Parlamento a governante e dez entidades ligadas a este tema.
Clínicos denunciam falta de estratégias contra a violência
A maioria das unidades de saúde não conta com estratégias de prevenção da violência contra os seus profissionais e limita-se a pouco mais do que a apoiá-los após episódios de agressão. A conclusão consta num levantamento da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) junto de várias unidades de saúde. "Questionámos sobre os procedimentos que tinham para prevenir casos de assédio moral e agressões. Os resultados, que iremos apresentar em breve, revelam uma completa despreparação. As respostas traduzem-se num apoio "a posteriori", como o apoio jurídico", disse, ao JN, Noel Carrilho, líder da FNAM, que exige "seguranças nos centros de saúde e policiamento nos serviços de urgência de dimensão relevante ou com antecedentes de violência".
*com J.P.C. e H.C.