Portugal despende o equivalente a 1% do PIB para tratar doença. O maior peso é com cuidadores e apoios sociais.
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Portugal gasta todos os anos, em média, dois mil milhões de euros de despesa pública e privada para tratar pessoas com a doença de Alzheimer. Os custos médicos e não médicos podem, em conjunto, superar os cinco mil euros anuais por cada doente. Apesar do custo elevado com internamentos e medicamentos, são os cuidadores e os apoios sociais a representar a maior fatia da despesa.
O valor "avassalador", de acordo com João Massano, presidente do Grupo de Estudos de Envelhecimento Cerebral e Demência, estará, no entanto, "subestimado", uma vez que nem todos os óbitos são imputados à doença neurológica.
De acordo com o estudo "Custo e Carga da Doença de Alzheimer em Portugal", desenvolvido pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), com o apoio da biotecnológica Biogen e que foi divulgado esta terça-feira, a despesa total por ano com o Alzheimer equivale a 1% do PIB do país. Cerca de 1,1 mil milhões de euros são despesa com os cuidadores informais e 551 milhões em apoios sociais, onde se inclui a Rede de Cuidados Continuados e as estruturas residenciais.
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Nos apoios, a despesa anual por doente pode chegar aos 3800 euros. Nos cuidados em ambulatório, do diagnóstico à reabilitação, o custo por ano é de 1700 euros. No total, mais de cinco mil euros podem ser gastos para tratar uma pessoa.
145 mil com a doença
Para João Massano, os valores vão "disparar no futuro", já que a "prevalência da doença está a aumentar". Os investigadores do CEMBE estimam que perto de 145 mil pessoas tenham Alzheimer em Portugal. "Com uma monitorização mais apertada e um sistema frágil, podemos entrar numa situação de grande dificuldade para lidar com a doença", refere.
O neurologista diz que a investigação reforça a importância que deve ser dada aos cuidadores informais, muitas vezes "familiares diretos" e em "idade ativa". João Massano explica que os que cuidam podem desenvolver até "problemas de saúde mental", devido ao desgaste que enfrentam.
A solução passa, segundo o médico, por uma resposta integrada entre Ministério da Saúde e as autarquias para ajudar doentes e familiares. O Alzheimer é responsável por 7% do total de anos de vida perdidos por morte prematura a partir dos 65 anos, conclui o estudo apresentado esta terça-feira.
Há fatores de risco que podem ser controlados
O envelhecimento explica, em parte, o aumento da prevalência da doença de Alzheimer no futuro. Contudo, o neurologista João Massano explica que há "fatores de risco que podem ser controlados", sobretudo os relacionados com as doenças vasculares, nomeadamente o nível elevado de colesterol, a diabetes, a obesidade ou o tabagismo. "São necessárias campanhas para sensibilizar", refere.