Três quartos das farmácias tiveram prejuízo, no ano passado. Em média, cada uma perdeu quase 18 mil euros na venda de medicamentos comparticipados (valor estimado). O arrastar da crise, desde 2008, e a quebra de vendas sentida já este mês levam a Associação Nacional de Farmácias a pedir ao Governo medidas "com urgência".
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A crise no setor das farmácias começou em 2008, quando o Estado cortou a sua despesa com medicamentos comparticipados. Um estudo encomendado pela ANF à Universidade de Aveiro nota que a margem das farmácias continua muito abaixo do que era em 2010. Em 2017, ganhavam menos 82 cêntimos por cada embalagem vendida; em 2018, a perda era de 77 cêntimos - uma "redução catastrófica", classifica o estudo.
Aos cortes na margem obtida com a venda de medicamentos comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde somou-se, a partir de 2005, a concorrência feita por parafarmácias de super e hipermercados. Em 2018, o número de pontos de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica continuava a aumentar e chegou aos 1324, quase metade do número de farmácias. Estas parafarmácias, lê-se no estudo, são geridas por um pequeno número de "grandes grupos de retalho alimentar, com elevados níveis de integração vertical e horizontal" e que estão a ganhar cada vez mais quota de mercado.
24% insolventes ou penhoradas
Em consequência dos constrangimentos financeiros, o setor não está a conseguir baixar o número de farmácias insolventes ou penhoradas. Nos últimos anos, esse número ronda os 25%: 630 farmácias em 2017 e 679 no ano seguinte. "Estes processos são comuns a todos os distritos do país, mas com maior incidência nos distritos de Portalegre, Santarém, Faro, Guarda, Lisboa e Setúbal", indica o trabalho. Nestes distritos, cerca de 30% das farmácias estão falidas ou insolventes.
Em 2019, a tendência terá sido a mesma. O estudo estima que as vendas de medicamentos comparticipados tenham subido 6,5%, para 914 mil euros, mas com uma rentabilidade negativa (-2%), pelo que o prejuízo médio terá sido de 17.818 euros - maior do que os 17.537 euros de resultado negativo do ano anterior.
Estes resultados, conclui o estudo, demonstram "a falência do modelo económico das farmácias", apesar de serem uma "componente decisiva de desenvolvimento e equidade no acesso à saúde, especialmente nos locais mais desertificados do país". O Estado deve, por isso, "conciliar objetivos de sustentabilidade das finanças públicas, com o acesso à saúde".