Jovens adultos vacinados com a Janssen estão já a tomar a segunda dose, recorrendo a senhas digitais. Profissionais de saúde no terreno falam em falta de orientações.
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Está instalada a confusão na administração da dose de reforço contra a covid. Se a mensagem das autoridades de saúde tem assentado na priorização por faixas etárias, salvaguardando os mais vulneráveis, no terreno a realidade é bem diferente. Com jovens adultos vacinados com a Janssen a receberem a segunda dose, enquanto maiores de 65 anos aguardam ainda por confirmação de agendamento ou têm marcação para as próximas semanas. Como a ordem é vacinar, quem se apresenta e é elegível é imunizado, independentemente da idade.
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Ao JN chegaram relatos de jovens adultos imunizados com a Janssen, na casa dos 20 a 30 anos, que receberam já a segunda dose, após a atualização das regras pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que torna estes utentes, mais de 1,1 milhões, elegíveis para reforço. No caso, para segunda dose, uma vez que a Janssen era de toma única.
Senhas digitais
Há quem se dirija aos centros de vacinação e seja imunizado. Mas há também quem tire senhas digitais, muitas vezes para o próprio dia, disponíveis no site criado pelo Ministério da Saúde para a covid-19. Funcionalidade que continua disponível para os maiores de 12 anos, conforme confirmou o JN nesta manhã. E que está a ser divulgada e comentada em plataformas de conversação como o Reddit ou o WhatsApp.
Ao reforço juntam-se também os maiores de 65 anos que recuperaram da doença, tomaram apenas uma dose e têm agora direito à segunda. Nestes casos, explica ao JN o presidente da USF-AN, Diogo Urjais, "ou são convocados pelas unidades ou apresentam-se nos centros de vacinação". Tendo o JN conhecimento do caso de um utente com mais de 70 anos, com seis meses corridos desde a primeira dose, a quem foi recusado o reforço vacinal. Sendo que, também nos recuperados, como dito por Graça Freitas, a imunização seria feita por faixa etária. O que não acontece.
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Sem orientações
"É o caos. Neste momento, teoricamente, temos sete níveis de prioridades na fase 3" - residentes e utentes em lares, mais de 80 anos, mais de 65 anos, profissionais de saúde, profissionais de lares, bombeiros e pessoas com mais de 18 anos com esquema Janssen, "o menos prioritário", vinca o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. A que se junta a possibilidade de pedido de agendamento, as senhas digitais e a casa aberta.
"Nesta altura a instrução é vacinar tudo. Obviamente que os centros de vacinação, quando não têm ninguém para vacinar nas faixas superiores, vacinam quem aparece", nomeadamente os da Janssen, explica Nuno Jacinto.
Entendendo que, nesta altura, "não vale a pena" reorganizar o processo: "É deixar andar correr. Os centros estão abertos. O problema aqui é que andamos a tapar buracos de dia para dia, em vez de termos planeado a tempo". Vincando aquele responsável que "para quem está no terreno é muito complicado e difícil gerir".
Na mesma linha, Diogo Urjais frisa não terem ainda recebido "informações sobre como se vai operacionalizar" o reforço da Janssen. Admitindo que "sejam convocados centralmente ou, em alternativa, que se faça casa aberta em determinados dias da semana, tanto que é um volume muito grande de pessoas".
Recorde-se que, na segunda-feira, o secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales garantira que a prioridade seria a mesma, ou seja, por ordem decrescente. "Começamos sempre pelos mais vulneráveis, os mais idosos", afirmara. Na mesma ocasião, anunciou ainda um reforço de meios para fazer face à duplicação da população elegível, à luz das novas regras da DGS.
O JN questionou a DGS mas não obteve ainda respostas. Esta quarta-feira foi realizada uma conferência de imprensa sobre a campanha de vacinação, com a participação de Lacerda Sales, Graça Freitas e o coronel Carlos Penha-Gonçalves.