Faltam 290 camas, 90 médicos, 583 enfermeiros e 191 assistentes operacionais. Norte é região mais afetada.
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A capacidade instalada dos serviços de Medicina Intensiva de todo o país tem de aumentar 46% até 2021. São necessárias mais 290 camas, 90 médicos, 583 enfermeiros e 191 assistentes operacionais e um investimento de 32 milhões de euros. Parte das necessidades têm de ser colmatadas este ano e o Norte é a região que precisa de maior atenção. O alerta é da comissão criada pelo Governo para acompanhar a resposta em Medicina Intensiva no âmbito da pandemia: é preciso qualificar os serviços no "imediato" para "responder a um desafio prolongado no tempo".
Os sete especialistas que assinam a proposta de "Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação - Medicina Intensiva", que se encontra em consulta pública até dia 21, encontraram várias fragilidades: um número de camas de cuidados intensivos "escasso", "obsolescência de equipamentos e de estrutura física", poucos quartos de isolamento e ainda menos com capacidade para pressão negativa ou positiva. Uma "população de intensivistas escassa e envelhecida" e enfermeiros insuficientes para manter a eficiência e baixo risco de "burnout" são outros problemas identificados.
Espera-se elevada procura
Em plena pandemia, defendem os autores, há que melhorar em simultâneo as estruturas, equipamentos e recursos humanos, aproveitando a oportunidade para melhorar o futuro da Medicina Intensiva e aproximá-la dos rácios europeus de 11,5 camas por 100 mil habitantes.
Os especialistas avisam que nos próximos tempos estes serviços hospitalares que tratam o doente crítico terão "elevada procura" porque a covid-19 manterá "uma incidência endémica significativa", à qual acrescerão "ondas secundárias", os hospitais estão a reativar a atividade suspensa e é expectável um "aumento da procura por doentes com patologias que têm estado afastados do sistema, chegando mais tarde e mais graves".
De todas as regiões do país, o Norte é a que necessita de maior investimento em cuidados intensivos: mais 107 camas, que implicam uma despesa de 12,89 milhões de euros (incluindo os 3,4 milhões já previstos do investimento no Hospital de Gaia), mais 39 médicos, 209 enfermeiros e 80 assistentes operacionais (ver infografia). É menos do que pedem os conselhos de administração dos hospitais porque a proposta define os recursos necessários para o aumento de camas e não para colmatar os "défices crónicos" de pessoal.
O reforço proposto é por comparação ao cenário pré-covid-19, já que o alargamento de camas no pico da pandemia foi à custa do emagrecimento de outros serviços, cuja atividade foi travada. Algo que daqui para a frente ninguém quer repetir.
Dispensar alguns serviços de receber doentes covid-19
"Deve haver um conjunto de hospitais dispensados de receber doentes críticos de covid-19 nesta fase, sobretudo os mais pequenos", afirma José Artur Paiva, um dos signatários da proposta de rede nacional de especialidade hospitalar e de referenciação em Medicina Intensiva.
O documento, com data de 1 de junho, refere que "tendo em conta a redução sustentada do número de doentes covid internados em Medicina Intensiva", deve haver serviços "temporariamente dispensados de admitir estes doentes". A ideia é evitar ter de esvaziar uma unidade de cuidados intensivos de um hospital por causa de um doente infetado, explicou ao JN o também diretor do Serviço de Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de S. João. José Artur Paiva avisa, contudo, que o objetivo também não é reduzir demais e voltar ao que aconteceu numa fase inicial com apenas dois hospitais a darem resposta à covid (S. João, no Porto, e Curry Cabral e Estefânia, em Lisboa).
Aproveitar médicos em formação
Como não há intensivistas de sobra para recrutar, deverão ser abertos concursos nacionais específicos que permitam a colocação, nos serviços de Medicina Intensiva, de médicos com outras especialidades (anestesiologia, medicina interna, etc.) que pretendam fazer uma diferenciação em Medicina Intensiva. A ideia é aproveitar o trabalho destes especialistas enquanto fazem a formação.