Hospitais preparam-se para época mais difícil: S. João e Santa Maria querem mais profissionais e espaços de isolamento com pressão negativa. Tratar doentes covid e não covid é o grande desafio.
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Os termómetros andam acima dos 30 graus, mas por estes dias já há hospitais do país a preparar-se para o frio e a chuva. A mudança de estação trará as habituais doenças respiratórias e a gripe que, por si só, chegam para congestionar os serviços. Mas, este ano, a coabitação daquelas patologias com a covid-19 traz "preocupação acrescida".
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No Hospital de S. João, as necessidades estão identificadas: são necessárias mais camas, pelo menos quatro em Medicina Intensiva, "muitos enfermeiros" e dez quartos de isolamento com modulação de pressão (positiva ou negativa consoante a patologia), resume o diretor do serviço de Medicina Intensiva. José Artur Paiva nota que a resposta daquele que foi até agora o hospital com mais doentes críticos covid-19 "correu bem" porque foram ocupados serviços onde a atividade foi temporariamente "desligada". "O difícil é a partir de agora. A atividade [programada] está a voltar e a covid está aí", realça.
Antevendo um inverno "potencialmente muito complicado", José Artur Paiva lembra que os hospitais ganharam experiência e capacidade de adaptação - "em dez semanas, o S. João readaptou o plano de contingência seis vezes" - e agora precisam de um "reforço sustentável" para poderem responder à atividade covid e não covid. Desta vez ninguém quer voltar a travar consultas, exames e cirurgias programadas a doentes não infetados.
Luís Pinheiro, diretor clínico do Centro Hospitalar Lisboa Norte (inclui o Santa Maria) não esconde que olha para o inverno com uma "inevitável preocupação acrescida". Mas ao mesmo tempo, com expectativa positiva porque os hospitais ganharam "resiliência, capacidade de adaptação e flexibilidade das organizações". O plano "começa por assumir que este inverno vai ser diferente" e continuar a dar resposta à atividade normal e covid. Manter-se-á em funcionamento a urgência covid autónoma e as enfermarias dedicadas e haverá um plano de resposta à doença respiratória aguda.
O CHLN quer ainda dotar o internamento de Pneumologia com enfermarias completas em pressão negativa. Para evitar sobrelotação dos serviços, estão já a ser trabalhadas alternativas ao internamento, que vão desde a monitorização à distância ao internamento domiciliário. A matemática mais difícil será ter profissionais suficientes.
Também a tutela está preocupada com o inverno. Na última conferência de imprensa, a ministra da Saúde adiantou que a época está a ser preparada em termos de vacina da gripe, de expansão da testagem laboratorial e da capacidade da Medicina Intensiva.
O presidente da associação de médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, teme que o país não consiga responder a um ressurgimento de casos no inverno se mantiver os números atuais e defende a antecipação da campanha de vacinação da gripe.