Foi notícia de primeira página da edição do Jornal de Notícias de 9 de agosto de 1929. Um feito "prodigioso", que ocorreu no Hospital da Misericórdia do Porto: uma cirurgia para transferir glândulas de um macaco para o corpo de um capitalista de Braga, que procurava a "fonte da juventude", inspirado no famoso cirurgião francês, de origem russa, Serge Abrahamovitch Voronoff, que prometia a possibilidade de uma pessoa se tornar "num super-homem até aos 140 anos".
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A cirurgia foi feita pelas mãos de um português, "o sr. dr. Carlos Fortes", no mais absoluto sigilo. Só aquele médico conhecia a identidade do capitalista, que foi identificado na reportagem como "sr. X". Viera de Braga para o Porto "no comboio da manhã". "Despiu o fato e estendeu-se a todo o comprimento na mesa operatória. Muito gordo, de ventre rotundo e alto, por mais que olhasse não conseguia divisar o que se passava regiões... antárticas do seu corpo. Deitou-se e esperou a intervenção salvadora", descreveu o Jornal de Notícias.
Ao lado, em outra mesa operatória, estava o macaco que serviu para a enxertia. Viera de Lisboa e já tinha sido usado para outra cirurgia. Aquela seria o seu "sacrifício último". "Enorme, de membros fortes, tinha uns olhos tristes, uns olhos que preadivinham desgraça", descreveu-se ainda na notícia, onde se conta que a operação "começou cerca do meio dia e "durou 40 minutos".
No final, o símio que o Jornal de Notícias apelidou de "infeliz macaco" e que custou "4 contos", foi sacrificado. "O macaco imolado às necessidades do sr. X, poderia ser aproveitado com vantagem para guarda de um harém; mas, como em Portugal não temos sultões, o sr. dr. Carlos Fortes ordenou que lhe cortassem as carótidas. O animalsinho nem sequer chegou a recuperar o uso. Foi desta para melhor sem dar por isso", relata-se.
Quanto ao "sr. X", que "nem sequer deu pela operação" que foi presenciada pelo médico holandês Melchior (especialista de cirurgia e ginecologia do Hospital de Amesterdão), ficou "bom". "O sr. X tem 36,5º de febre. Fala, conversa, ri. Não se recusa a receber ninguém. Foi pelo seu próprio pé para a cama", contou um empregado ao Jornal de Notícias, em meia dúzia de parágrafos com o entretítulo "Junto do operado - Alegria e saúde".
Ao Jornal de Notícias, o "sr. X" garantiu que se sentia "mais homem". "Há bocadinho, até cantei!", enfatizou, aceitando revelar que era da "aldeia", que trabalhava em Braga e que se chamava Luíz Peixoto Magalhães.