"Graves noticias nos foram hontem á tarde, comunicadas, telegraficamente. Rebentou uma revolução o governo foi preso e o czar abdicou", lia-se na primeira página do JN, na edição de 17 de março de 1917.
Corpo do artigo
"Rebentou uma revolução o governo foi preso e o czar abdicou", relatava o JN na edição do dia 17 de março de 1917, ao noticiar o desencadeamento da Revolução Russa, que compreendeu duas fases distintas: a Revolução de Fevereiro (março no calendário gregoriano), que, em apenas uma semana, levou à resignação do último czar russo, Nicolau II, e a Revolução de Outubro (novembro no Ocidente), que fez ascender o Governo da Rússia Soviética, liderado por Vladimir Lenine.
"Grandes e tumultuosas manifestações havia nas ruas de Petrogrado", podia ler-se na primeira página do jornal, que apontava como "rastilho" para os protestos a suspensão das "sessões da Duma (parlamento) sem resolver a questão da subsistência da população russa", que, na época, vivia num quadro de profunda pobreza. A juntar a isso, o crescente desagrado com o envolvimento na guerra mundial (1914-1918) e a política autocrática do czar avultaram o sentimento de frustração social.
Da revolta de fevereiro, desencadeada pela classe operária e por soldados descontentes, resultou o trágico fim dos Romanov, a última dinastia reinante na Rússia. Além de se ver obrigado a resignar, Nicolau II - que, tal como noticiou o JN, "abdicou a corôa em favor do duque Miguel Alexandrowiteh", seu irmão mais novo, - e a família, entre os quais a czarina e os cinco herdeiros, foram executados pelos revolucionários.
Depois do colapso da monarquia absolutista, com a saída de cena do caçula de Alexandre III, instalou-se o Governo Provisório, liderado por Georgy Lvov, e, com a ajuda da Alemanha, Lenine regressou ao país, abrindo a porta a uma república dos sovietes que defendia a nacionalização dos bancos e da propriedade privada.
Ao longo de cinco meses, Lenine, inspirado em Karl Marx, preparou o que havia delineado no exílio. Na madrugada de 25 de outubro, os bolcheviques, com a ajuda de elementos anarquistas e Socialistas Revolucionários, cercaram a capital, onde estavam sediados o Executivo Provisório e o Soviete de Petrogrado, e assumiram as rédeas do poder.
No interior da edição de 17 de março, o jornal descrevia a sucessão de episódios de Fevereiro como um "grande acontecimento histórico", sem ainda se prever como terminaria o ano, que se mostrou decisivo para a construção daquilo que viria a ser União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1922. Mais de um século depois, a sucessão de eventos impulsionados pelo fim da era imperial, ainda é espelhada naquilo que é a conjuntura atual.
Amanhã: Portugal ganha o seu primeiro aeroporto internacional na Portela, Lisboa