Nunca, no último ano, a região registou um crescimento tão forte e tão acelerado. Dentro de uma semana pode chegar aos 240 casos/100 mil, admitem especialistas.
Corpo do artigo
Num crescimento exponencial e acelerado, a região Norte encontra-se, hoje, numa situação sem paralelo num ano de pandemia. Com os novos casos a aumentarem 11% ao dia e um R acima de 1,30, o Norte está a duplicar o número de casos a cada seis dias. Com foco no Porto e concelhos limítrofes. Dentro de uma semana, poderá mesmo chegar à linha crítica dos 240 casos a 14 dias por 100 mil habitantes.
De acordo com os cálculos do matemático Carlos Antunes, a região Norte terá já atingido os 112 casos a 14 dias por 100 mil habitantes. Com a incidência "a aumentar a um ritmo de 11% ao dia, duplicando o número de casos a cada seis dias", explica ao JN o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Se, ao nível da incidência, está longe dos 449/100 mil apurados por Carlos Antunes para o Algarve e dos 371/100 mil calculados para Lisboa e Vale do Tejo (LVT), ao nível do R é, de longe, a região onde o indicador que mede o grau de transmissibilidade do vírus mais se evidencia.
Numa média a cinco dias, o matemático coloca o R no Norte nos 1,39, que compara com 1,24 no Algarve e 1,14 em LVT. Estimando que "daqui a uma semana a região tenha 240 casos por 100 mil", a linha vermelha crítica definida tanto por peritos como pelo Governo na sua matriz de risco.
Sem paralelo no último ano
Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto, confirma uma realidade nunca antes vista na região. "No último ano, nunca assistimos a um crescimento simultaneamente tão forte e acelerado como o atual no Norte", frisa ao JN. Em termos de crescimento, "é, pelo menos, tão forte quanto o do pico da vaga de outubro no Norte" e que mais pressão colocou sobre os hospitais na região. Mas com uma rapidez nova, naquilo que classificou já como um "fenómeno de supertransmissão".
Com vários fatores em cima da mesa. Com festejos e convívios familiares alavancados pelas celebrações do São João, no Porto. Mas, também - e até porque a subida é anterior a 24 de junho -, impulsionado pela variante indiana que, de acordo com o último relatório das linhas vermelhas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, caminha para dominante na região: 49,0% contra 31,1% na semana passada.
Porto e arredores
"Na última semana os casos mais do que duplicaram. E isto é reflexo de um crescimento generalizado em vários concelhos, mas com particular incidência nos concelhos do Porto e arredores", afirma Óscar Felgueiras. Consultando o mapa concelhio ontem divulgado pela DGS, o Porto somava 249 casos por 100 mil, Vila Nova de Gaia 161 e Matosinhos 153.
Com a incidência a fazer eco nas camadas mais jovens e ainda não vacinadas. No Norte, a faixa etária dos 20-29 anos conta 270 casos por 100 mil habitantes. Em média, explica o matemático que tem assessorado o Governo, "esta faixa tem uma incidência sempre acima do dobro da incidência da região".
A receita há muito é conhecida: testar, rastrear, isolar; cumprir as medidas não farmacológicas (máscara, distanciamento) e vacinar. "Numa corrida contra o tempo, na esperança de que a vacinação comece a achatar a curva do R, porque vai retirar do circuito os suscetíveis", diz Carlos Antunes. Com a diferença de que, nesta quarta vaga, a vacinação "está a atenuar os internamentos e os óbitos".
Pressão
Rastreios em atraso e testes em baixa
Com o aumento da incidência sobe a pressão sobre os serviços. Segundo Carlos Antunes, 30% dos casos em Lisboa estão a ser notificados para lá das 24 horas e no Norte cerca de 15%. É uma das linhas vermelhas traçadas pelos peritos: menos de 90% dos casos e contactos isolados e rastreados nas primeiras 24 horas após notificação. Os médicos de saúde pública e de família há muito vêm alertando que os recursos não esticam. Do lado da testagem, se "no final de abril por cada 100 mil testes tínhamos 700 casos, agora, por esses 100 mil temos três mil", adianta o matemático. Fazendo com que a positividade esteja já nos 3,5%, perto da linha vermelha dos 4%.