Campanhas deixaram de ser pontuais para passarem a ser permanentes. Escolas atentas a vários sinais de alerta.
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Há cada vez mais escolas a recolher produtos para distribuir cabazes alimentares, alertam os diretores. Diariamente são identificados "sinais de empobrecimento": alunos que cortaram nas visitas de estudo, que passaram a comer nas cantinas ou que chegam às aulas sem pequeno-almoço.
O Agrupamento de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, tem há anos a tradição de distribuir cabazes no Natal, mas no último ano teve de criar "um banco permanente". Além de alimentos, são distribuídos produtos de higiene, explica a diretora Sílvia Vidinha.
A escola registou um aumento de alunos migrantes que tardam a aceder a apoios devido à demora na regularização dos vistos. "Tivemos uma aluna que faltava sempre que tinha período por não ter dinheiro para pensos higiénicos", refere. Sílvia Vidinha também registou uma quebra acentuada na participação nas visitas de estudo e um aumento de mais cem alunos, por dia, a almoçar no refeitório da Secundária. "São sinais", diz, defendendo maior investimento nas refeições.
"É pesado ao grama"
"As cozinheiras fazem milagres, mas a qualidade da comida é má e pouca. É pesada ao grama. Como todos os dias na cantina e é doloroso ver que o comer não é bom e ainda assim há muitos que pedem mais e não temos mais para lhes dar. Não se consegue ter alunos atentos e empenhados se não estiverem bem alimentados", alerta.
No Agrupamento Dr. Costa Matos (Gaia), os sinais de quem chega à escola com "escassez de alimentos" também se tornaram evidentes. A escola tem uma campanha permanente de recolha de alimentos e está a criar um programa específico de lanches. É que quem pede ajuda, explica a psicóloga escolar Mónica Costa, mudou. Já não são apenas as famílias mais carenciadas mas quem trabalha e não consegue suportar a subida das taxas de juro e do custo de vida, explica. Ou seja, são famílias não abrangidas pela ASE.
Já na Frei Gonçalo de Azevedo (Cascais), a distribuição de cabazes fora da época do Natal é "pontual", garante o diretor David Sousa. A escola tem um banco para troca de roupa. As escolas do município recolhem as sobras diárias das cantinas para distribuir por instituições, uma vez que é proibido distribuir pelos alunos. A Câmara de Cascais, refere David Sousa, autoriza as escolas a sinalizar alunos sem escalão para beneficiarem de apoios como refeições.
Pormenores
16 euros é o valor anual atribuído aos alunos abrangidos pelo escalão A para material escolar. No escalão B, é de oito euros. E para visitas de estudo, é de 20 e dez euros anuais.