Largas centenas de pessoas encheram este sábado a Praça dos Restauradores, em Lisboa, pela igualdade de género, salários dignos e contra a violência conjugal e a prostituição em Portugal, num protesto convocado pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM). A manifestação dirigiu-se para o Terreiro do Paço.
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Por volta das 14:30 horas já se concentravam centenas de pessoas, vindas de todos os pontos do país, perto do monumento dos Restauradores erguendo cartazes e faixas com várias palavras de ordem como "Os direitos das mulheres não podem esperar", "Exigimos o fim da exploração, da precariedade e das discriminações salariais" ou "Os proxenetas não marcham ao nosso lado".
Este é o sétimo ano consecutivo que o movimento organiza a Manifestação Nacional de Mulheres (MDM), este sábado sob o lema "Mil razões para lutar!", numa ação que dá como terminadas as comemorações do Dia Internacional da Mulher, assinalado na passada quarta-feira, 8 de março.
Há 48 anos, nesta mesma praça, "o MDM celebrava a primeira manifestação em liberdade, em 1975", recordou, ao JN, Sandra Benfica, membro da direção nacional do movimento. "Nesta ação converge aquilo que é uma alegria da participação, mas também um conjunto que nós designámos por mil razões que as mulheres têm para lutar", explicou, colocando a tónica "nas que são mais do que evidentes ao nível da degradação das nossas condições de vida e de trabalho, do estatuto social e político das mulheres, daquilo que são as consequências do aumento do custo de vida e o impacto que tem nas nossas vidas".
A dirigente alertou ainda que "os problemas que as mulheres enfrentam são multidisciplinares" exigindo por isso "uma resposta global" que considere "os diferentes papéis que as mulheres desempenham na sociedade". "Afinal, não há desenvolvimento do país sem o trabalho das mulheres".
Sobre o protesto, Sandra Benfica acrescentou que "se as mulheres têm mil razões para lutar, também têm mil razões para confiar. Confiar em si próprias e confiar na sua luta organizada. Esta manifestação é a expressão disto".
Há uma semana, as mesmas reivindicações fizeram-se ouvir na Praça da Batalha, no Porto, noutra manifestação convocada pelo MDM. Desde a pandemia que o movimento tem dividido os protestos nas duas grandes metrópoles, promovendo também outras ações de norte a sul do país.
Exigem salários dignos
Com um ramo de cravos na mão, Alícia Alves corria pelos manifestantes que, pouco a pouco, começavam a marchar, a passo lento em direção à Praça do Rossio. Dá um cravo a quem quer. Veio de Vila Franca de Xira com outras colegas "porque infelizmente estamos a viver uma altura de grandes afrontas aos direitos das mulheres, de desigualdades sociais e uma grande discrepância salarial entre homens e mulheres".
Enquanto trabalhadora e mulher, a manifestante partilhou sentir várias dificuldades e o aumento do custo de vida todos os dias. "Ainda agora no concelho de Vila Franca tivemos uma grande ação de luta por parte dos trabalhadores da Dan Cake. Muitos deles mulheres que ali estiveram toda a vida a trabalhar. Foram elas que deram força à empresa para ter o nível de lucros e o estatuto que tem. Muitas das trabalhadoras estão a receber à volta de 700 euros por mês com 40 anos de casa", denunciou.
Há três anos consecutivos que Sónia Matos participa nesta iniciativa. Para a vice-presidente da primeira associação de mulheres ciganas portuguesas - a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP) -, "é importante mostrar que todas as mulheres estão juntas porque só assim é que conseguimos fazer a diferença e que as mulheres ciganas portuguesas fazem parte deste país e da sua história".
Acompanhada por mais cinco mulheres ciganas, Sónia Matos saiu à rua para exigir "mais equidade entre todas as culturas, algo que ainda não existe", lamentou. "Gritamos bem alto para mostrar que nós, as mulheres ciganas, também estamos na luta e também existimos, apesar de a imagem que passa para fora é sempre a de que a mulher cigana não tem liberdade", acrescentou.
Neste protesto marcharam ao lado do MDM várias pessoas e organizações que trabalham temas específicos com o movimento, desde a AMUCIP, à Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional (CGTP), o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), a Uniâo de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), entre outras.
O protesto terminou no Terreiro do Paço, onde estavam previstas intervenções de representantes do MDM.