Como é que uma aplicação no telemóvel pode ajudar pacientes com doença arterial periférica a manterem-se ativos e a evitarem as cirurgias? É isso que o Centro Hospitalar e Universitário do Porto (CHUP) está a testar e os primeiros resultados são "muito positivos". O "WalkingPad" é apenas um exemplo de muitos projetos em marcha naquela que é a instituição hospitalar do país que mais investe em investigação e desenvolvimento (I&D).
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Com 8,2 milhões de euros gastos em investigação em 2020 (2% do orçamento anual), o CHUP - integra o Hospital de Santo António e o Centro Materno-Infantil do Norte - manteve o primeiro lugar do ranking anual da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, publicado este ano, sobre as instituições hospitalares com mais despesa em I&D. Desde 2016 que este lugar é ocupado pelo hospital do Porto.
O pódio integra ainda o grupo Luz Saúde e o Centro Hospitalar Lisboa Central, com 6,8 milhões de euros e 6,2 milhões de despesa respetivamente.
"Assistência, ensino, investigação e inovação, nenhum destes componentes é menos importante", destaca o diretor clínico do CHUP, José Barros, notando que a instituição publica mais de um artigo por dia em revistas internacionais indexadas.
App monitoriza caminhadas dos doentes
A investigação aplicada à prática clínica vê-se num dos gabinetes do serviço de Cirurgia Vascular do CHUP. Ali foi desenvolvida, com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e o INESC TEC, uma aplicação móvel que põe os doentes com doença arterial periférica a "dar a volta à Europa" em "campeonatos de caminhadas" acumulados.
A patologia, cujos fatores de risco são o tabagismo, a diabetes, hipertensão e colesterol alto, leva ao entupimento parcial das artérias. Quando o sangue não chega aos músculos, a dor nas pernas torna-se insuportável.
O tratamento preconizado é caminhar para que outras artérias, mais finas, vão surgindo e possam levar o sangue aos músculos, explica a cirurgiã vascular Ivone Silva. Mas como convencer os doentes a manterem uma terapêutica que lhes causa dor?
É este o desafio do WalkingPad, uma aplicação que monitoriza as caminhadas de cada doente, previamente planeadas em contexto clínico, mas executadas perto de casa, para maior conforto e adesão.
Paralelamente, a psicóloga Susana Pedras trabalha o lado motivacional. Se não há registos, telefona para saber a razão, lembrar os benefícios do exercício e ajudar a ultrapassar dificuldades.
Os resultados do estudo, que compara um grupo de doentes seguidos pela aplicação e outro sem aplicação, serão publicados até ao final do ano mas, para já, as investigadoras garantem que "são muito positivos".
Hospital representa o país em rede europeia para testar vacinas para a covid-19
A pandemia de covid-19 despertou a necessidade de se criar uma rede europeia de ensaios clínicos para acelerar o desenvolvimento de vacinas. O VACCELERATE, liderado por um hospital alemão, envolve 29 países e Portugal está representado pelo Centro Hospitalar Universitário do Porto. Laura Marques, pediatra, docente e investigadora, é o rosto deste desafio, que inclui a criação de um registo de voluntários para testar as vacinas, antes de serem comercializadas.
Num país com pouca tradição em ensaios clínicos, ainda estão a ser dados os primeiros passos, mas já há 14 centros hospitalares aderentes, de Norte a Sul do país, afirma a coordenadora do projeto. A nível europeu a plataforma já soma cerca de 30 mil inscritos e tem três ensaios das atuais vacinas covid-19 em cima da mesa. No futuro, a rede poderá ser usada para testar outras vacinas e medicamentos.
Práticas úteis para o doente em protocolo
Bernardete Pessoa, oftalmologista do CHUP, passou os últimos meses debruçada sobre o tratamento do edema macular diabético, a principal causa de perda de visão em pessoas em idade ativa nos países desenvolvidos (afeta 30 milhões de pessoas). A patologia obriga a inúmeras deslocações ao hospital, para consultas, exames e tratamentos, e a investigadora dedicou-se a sistematizar quais "as ´práticas úteis para o doente e as que não têm evidência científica". A partir daí, criou um protocolo que uniformiza as melhores práticas para obter máxima eficácia nos tratamentos. Saem a ganhar o doente e o hospital.