Marlene Teixeira sofre de doença de Crohn e a operação devolveu-lhe qualidade de vida perdida. Ostomizados ainda sentem discriminação.
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Marlene Teixeira tem 37 anos e é ostomizada. Foi em 2012 que fez uma ostomia devido à doença de Crohn, a única solução para estabilizar a patologia e acabar com o sofrimento. "Cheguei a um ponto em que já não aguentava mais, a minha vida era só com a doença. Era um sofrimento atroz."
Aos 24 anos, diagnosticaram-lhe a doença de Crohn e, durante três anos, viveu entre consultas, internamentos, cirurgias e, acima de tudo, com muitas dores. "As dores são avaliadas de zero a dez e eu tinha dores de nove e de dez". A solução cirúrgica foi "um alívio", mas teve de adaptar-se à ostomia e continuar a lutar contra a doença. Marlene lembra que não foi difícil aceitar a intervenção, porque lhe devolveu a qualidade de vida que já quase não tinha.
A ostomia é um procedimento cirúrgico em que é criada uma alternativa para a saída de resíduos do corpo e surge após complicações e doenças diversos, tais como cancros do estômago e do cólon, doença inflamatória intestinal grave, incontinência, trauma abdominal ou pélvico grave resultante de acidentes, entre outros.
Esta condição não a priva de viver: "Eu faço natação, ginásio, viajo de mochila às costas e até ando em montanhas-russas", atenta ao JN.
O facto de ter uma vida normal, sem grandes limitações físicas, faz com que não sinta a necessidade de contar a todos a sua condição e será por isso que pouco sente o preconceito. Mas o preconceito existe, afiança. E uma simples ida à praia pode ser muito doloroso, para quem não se sente tão confortável como ela. "O biquíni tem um acrescento para nós e sabemos que vamos ser alvo de olhares."
"Ainda há muito desconhecimento sobre o assunto", confirma Valéria Pinheiro, presidente da Associação Nacional de Ostomizados. Ao contrário de Marlene, existem pessoas que sofrem de discriminação, tanto a nível pessoal como profissional.
rejeição no trabalho
Valéria também é ostomizada e já sentiu essa discriminação na pele. "Numa entrevista de emprego, em que referi a minha condição, responderam-me que queriam uma pessoa normal", conta, assegurando que, apesar de ter algumas limitações físicas, não iriam interferir com a atividade a desempenhar.
A ostomia é um problema transversal a toda a população. "Há bebés que nascem e são ostomizados", exemplifica, explicando que, no passado, era um problema quase exclusivo dos idosos e "ficava em secretismo". SE é para alertar para estas situações que a petição da Ostober.org, lançada no Dia Nacional da Pessoa com Ostomia, pretende eliminar, para que ninguém se sinta incomodado devido à ostomia.
Iniciativa
Mentores dão apoio desde a saída do hospital
O Programa +Contigo, criado pela Ostober.org, surge para colmatar a necessidade que as pessoas ostomizadas têm de falar com alguém que se identifique com a sua realidade. É constituído por um grupo de mentores, voluntários que tenham ostomias. Esses mentores acompanharão os recém-ostomizados, no momento da alta hospitalar, com o objetivo de tornar o processo menos doloroso. O acompanhamento permanecerá durante o tempo que se considerar necessário em cada situação e funcionará como um complemento aos serviços de saúde.
20 mil pessoas
ostomizadas no país. Muitos escondem a sua condição por serem alvo de preconceito e de rejeição.